Não quero amigos nem família,
Não quero choro nem lágrimas.
Não quero a tristeza do negro luto.
Não quero dó nem piedade.
Quero a chuva que sempre me perseguiu.
Quero a terra molhada e o coveiro, apenas.
Quero sentir-me sozinho, sem procissão nem o lúgubre folclore.
Quero o pó que se levantar quando for a enterrar.
Não quero rosas, nem vermelhas nem quentes.
Não quero a esperança além-morte.
Não quero saber de destino nem de gritos aflitos.
Não quero céu, nem inferno, nem dores, nem pesares.
Quero as ervas duras sobre o meu corpo adormecido.
Quero sentir o chocar dos ossos.
Quero a mudez que será a minha fala.
Não quero a balada dos sinos,
Não quero visitas ao meu leito
Nem tão pouco rezas ao meu espírito.
Quero os pássaros que, cruelmente, hão-de pousar na minha pedra.
Quero ser alimento da Natureza, do que é natural.
Quero passar pelos anos, ali, sem que notem a minha passagem.
Quero estar entregue à própria sorte, à morte.
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