Ainda há Bruxas e Fadas.
Não vivem em castelos nem voam em vassouras porque evoluíram no tempo.
Substituíram-nas por apartamentos ou moradias e carros de alguma ou muita cilindrada.
Não têm verrugas porque a estética já faz milagres, nem longos cabelos ondulados porque as modas ditam sobre as vontades.
Mas que há bruxas há! Todos o dizem. Todos o sabem.
A bruxa do nosso condomínio que fala mal dos vizinhos e sorri sarcasticamente, com uma vénia, quando um deles passa, a bruxa do trabalho que adora fomentar as intrigas entre colegas ou fazer a cabeça do chefe, a bruxa da amiga que, por se sentir gorda, faz sentir mal quem magro está, a bruxa que faz uma manobra perigosa no trânsito, se ri e ainda acena com o seu elegante dedo médio.
Depois há as princesas e fadas. Já não esperam pelos seus príncipes em castelos. Sabem e procuram o que querem ou não querem nada e vivem eternamente enfadadas. Quando se lhes pergunta o que têm, a resposta é "não tenho nada". O que querem fazer? "Logo se vê". Agastadas pelo dia-a-dia já não esperam nada, permanecem em conchas, encurraladas.
Sei que os tempos não são de varinhas de condão. Nem sempre é fácil sorrir na adversidade e há estórias que nunca acabarão com um "Feliz para sempre".
Mas porque nos esquecemos de voar? De usar o faz-de-conta? De continuar a sonhar ou fazer por cumprir aquele sonho de criança que pode ser tão pateta como "um dia como um kilo de gelados todos de seguida"? Simplesmente porque sim, porque a dor de barriga não importa, porque as mãos lambuzadas são para lamber e as gargalhadas que, com esse acto vamos soltar, nos vão chegar ao coração?
Quando as pessoas crescem, esquecem-se de voar. Quando não voam, aborrecem-se. Quando se aborrecem, angustiam. E ficam também birrentos com o seu próprio ser.
Hoje vou oferecer uma varinha de condão. Faz "plim" se se escutar com atenção.
Se não ouvires, volta a brincar ao faz-de-conta. Vais voar. E quando voares, vais ver até onde chega o teu coração!
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