Estação primeira

É verão.

O dia emancipa-se com quietude,

cheira a laranjas acabadas de descascar

e a madrugada há muito que se dissipou

pela porta entreaberta do quarto

onde desfalecemos.

As palavras derretem na dobra da língua

e o segredo soprado ao teu ouvido

é agora mais estridente do que o grito

agudo de uma criança.

Há vida em chamas na estação

que prolongamos neste quarto a sul.

A temperatura devora-nos sem complacência.

Chegado o outono, logo se verá.