Deseja-me

 

Deseja-me

Portuguese

Deseja-me,
podes estender os teus longos abraços de fogo,
mulher,
até onde me ardas,
até onde me sejas um inferno,
um pecado mortal,
até onde tomes posse
do meu corpo quente,
ah, tão quente,
até onde me fervas o sangue
e as vísceras
e os ossos se derretam e extingam
no teu vórtice ardente,
até onde me saibas ao fim dos tempos,
até ao cair incendiado do último sol,
até onde o próprio deus
não ouse compadecer-se de nós.
Deseja-me, mulher,
mas não te insistas em mim.
Não te repitas em mim.
Não ecoes em mim.
Deseja-me como uma lâmina no ventre,
como uma ferida aberta,
como uma fúria aberta,
deseja-me lenta, voraz, desperta,
deseja-me atenta ou distraída de mim,
mas não me repitas,
mulher.
Deseja-me uma vez,
uma única vez,
deseja-me com um amor sem réplicas,
uma vez só: e depois foge,
e depois corre
com os teus passos mais rápidos de correr,
foge com o teu medo
nas asas do instinto,
foge, foge, foge de mim.
Porque eu não quero
pensar em ti
como se fosses minha,
mulher.

 

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