Esta é a história do cordeirinho Gomas na sua aventura, num diário de três dias
Todos nós já sabemos como é a história do Homem com a natureza. Aprendi na escola que, assim como todos os animais, também o Homem precisa de alimento para sobreviver. É um facto mas pensei que com o tempo, com as mudanças, mudar-se-iam também as vontades. Homem, podias experimentar comer flores com batatas,fazer um guisado de coco com abóbora e bananas ahaha. Hey, afinal até daria um belo cozinheiro! Bem, a verdade é que a comunidade animal sonha viver em paz com o Homem há séculos, mas vejo que para já ainda não será possível, porque ainda não consegui editar o meu livro de receitas e por isso mesmo o Homem ainda desconhece que é possível. É possível comer bem e até melhor e até com um toque requintado sem recorrer á caça ou á pesca. Bem, mas não estou aqui para contar coisas tristes e sim para vos dar a conhecer um pouco de mim, do meu dia-a-dia e apresentar-vos os meus camaradas. Vamos a isso!
Olá, Olá! Sou o Gomas, um cordeiro simpático, ás vezes trapalhão e um fala-barato. Mas HEY sou amistoso, divertido…Ah! E GIRO Eh! Eh! Eh! Adoro inventar as minhas próprias palavras.
Nunca acreditei que me fizessem mal até porque não faço mal a uma mosca (mas também não as consigo apanhar!) nem a um gafanhoto, nem a um caracol. Sou tão “na paz”.
Moro na floresta mais longínqua da cidade onde não há ninguém que me aborreça ou que me desate aos tiros. Todos os animais se dão bem entre si e por isso a harmonia é leve até no ar, o que contribui para o crescimento saudável da nossa floresta.
Vou fazer-vos uma visita guiada a este local mágico, pode ser?
A floresta é escondida da cidade e protegida por um rio infinito, cuja água é o espelho das pombas e das gaivotas vaidosas que pela manhã se arranjam, se aperaltam e se enfeitam com as pétalas de flor, e se perfumam para mais um dia de trabalho, onde os veados saciam a sede depois de uma corrida matinal. O bando colibri são o nosso despertador. Ouvi dizer por aí que os “clic clic-acordem!” dos humanos são mais barulhentos Eh! Eh!
A sábia coruja Flora dá-vos as boas-vindas e dá-nos a todos uma breve lição: o homem sem a natureza não sobreviveria,é verdade, e todas as criaturas que vieram ao mesmo mundo que vocês merecem o mesmo como viver em paz, ser respeitado e ter direito ao seu cantinho. Um que nunca esteja constantemente em perigo eminente, um que não conheça a palavra medo. Um aonde os animais possam sentir-se totalmente em casa, em segurança.
“-Obrigada Coruja Flora. Decerto que lhes deu algo em que pensar. Até mais ver!”
Nem queiram saber o que os vossos olhos estarão prestes a ver. Nós, animais, também tivemos a ideia de construir um parque de diversões e cada um dos nossos habitantes tem a sua forma esculpida em madeira em cada cantinho! Até ao cinema já vamos Ah! Ah! O parque salvaguarda jardins grandiosos dos nossos antepassados. É lá que meditamos, que aprendemos, que choramos e rimos. É lá que aconchegamos a certeza de um amanhã melhor!
Ainda temos muito para vos mostrar mas agora vou falar-vos um pouquinho de mim. Sou um “FALA-SEMPRE-SOZINHO”, adoro rondar a minha cidadezinha, quando me apetece escapulir-me por umas horas e praticamente não durmo mas quando durmo, tenho sempre um olhinho fechado e o outro aberto. Querem tentar? Conhecem outro animal que também dorme assim?
Bem, o meu dia começa comigo a saltar da minha caminha quentinha, descer do meu posto de vigia QUE É TAO ALTO (SIM QUE ALGUÉM TEM DE FICAR A VIGIAR) mas confesso-vos que me magoa as patas de tanto subir e descer das árvores…mas certifico-me sempre que ninguém que não tenha quarto patas, que não seja nada parecido com nenhum dos meus compadres entre na nossa casa!E faço a ronda matinal para me assegurar de que tudo está no seu devido lugar.
19 De Dezembro (Sexta-feira)
Bom dia!
Oh parece que hoje estamos com azar…o céu parece triste. O tempo não está nada sorridente. E hoje que estava combinado desvendar-vos mais um pouco da nossa “ilha paradisíaca”...Está tanto frio e nevoeiro.
Mas lá fui passear tão bem acompanhado pelo canto alegre, ainda que enfraquecido, dos passarinhos, do esvoaçar das folhas que parecem desistir de lutar contra o tão irritado vento pois vejo-as cair com tanta facilidade. Passei em todos os cantinhos da floresta e vejo todas as tocas e abrigos fechados ao que parece, a sete chaves devido ao furioso temporal- claro que já vivemos tempestades mas esta parece ainda mais violenta. Quererá até dizer alguma coisa?
Cheguei ao restaurante da Dona Cigarra mas parecia estar fechado, andei mais cinco árvores para a frente e cheguei á casa da raposa vaidosa mas não a vi!
Fiquei pensativo mas lá continuei a andar até ao instante em que ouvi um tiro. E agora mais um…e outro! Assustei-me e por isso fugi na direcção errada. De tão assustado que estava, corri tanto que até me pareceu ter um chapéu na minha cabeça, com tantas flores, folhas e pequenos esquilos que fui apanhando! E sabem quem teve a lata de se meter no meu caminho?! Uma coisa estranha, gigante, cujas duas pernas tinham umas botas pretas até quase ao joelho, com umas calças verdes com tons esquisitos e ainda com UMA CARA DE METER MEDO AO SUSTO (AH! AH! SERÁ UMA ESPÉCIE NOVA?!)
Até o cumprimentei com o meu charme e simpatia: -“OLÁ!”. Só respondeu com um murmúrio de “zangadez”. Tentei ser simpático, mas quem não levou umas palmadas quando era pequeno por falta de educação foi ele! Mas continuámos a entre-olhar-nos. Eu com meu charmoso sorriso e ele com uma expressão de que me iria caçar. Mas isso era impossível, certo? CLARO!
No instante em que ele se levantou parecia querer brincar comigo mas nesse segundo passou a formiga Santinha. Parou, olhou para mim e disse: -“Foge, seu tolo!” E lá foi ela toda descoordenada no seu caminho a velocidade 100!
Fiquei a pensar por que razão me terá chamado tolo…
AH! Opa! Entendi: estava frente á frente daquele que destrói sem dó nem piedade a nossa natureza, que faz dos animais o que quer e bem lhe apetece. É aquele de quem nos temos escondido desde sempre. Senti-me de novo aterrorizado e só pensava que tinha de sair dali. Corri sem destino pelos arbustos dentro até que vi a “toca da salvação e sossego”. Pensei: "Sou mesmo fantástico!"
Depois de uns bons minutos escondido, não ouvi quaisquer passos ou tiros. Pensei que tinha acabado. Quando pus a cabeça de fora apenas para me certificar que estava a salvo, passou o “cara assustadora” a uma velocidade de uma chita! Voltei logo para dentro!
21 De Dezembro(Sábado)
Olá!
Desculpem não vos ter contado o dia de ontem mas estive a descansar depois do meu corajoso episódio policial Ah! Ah!
Falando nesse acontecimento, ora digam lá se não estive brilhantemente bem? OBRIGADA!
Bem, durante o amanhecer, foi anunciado pelo mocho Artur que a coruja esteve a noite toda a planear uma cerimónia importante para celebrar o dia anterior do qual não se viveu quaisquer consequências mais tristes e por isso se explica a azáfama dos nossos habitantes nesta manhã: flores para aqui, laços para ali. O gorila Golão carrega um cadeirão sublime. Até os pintainhos se enfeitam com doces de amora. Vinha aí algo em grande!
Depois de todos os convidados chegarem, é anunciado o início da cerimónia com o cantarolar dos pássaros. As árvores sopravam belas flores de Lótus que caíam quase que em câmara lenta á volta de todos os presentes.
-“Que belo inicio!”-disse eu.
A sábia coruja começou por dizer que este era o dia, mais do que qualquer outro, em que devíamos dar graças por estarmos ali todos, sãos e salvos. Explicou que os primeiros tiros que ouvimos foram disparados contra o rio, e que não era só aquele “cara assustadora” que lá estava. Eram caçadores altamente profissionais e perigosos que pretendiam caçar o maior número de animais para poderem ganhar o prémio exuberante de ter uma escultura sua no centro da cidade. Triste humanidade…
Mais para a frente no discurso, a coruja disse que iam coroar o mais valente desta luta. Fiquei confiante Eh! Eh!
Mas não foi o resultado esperado. Só ouvi a coruja chamar o veado Joca a quem ofereceu o cadeirão sublime e um cesto enorme carregado de frutas exóticas. Todos aplaudiram de pé e agradeceram pela patinha que Joca deu.
Então não é que no momento em que tirei a cabecinha de fora para poder assegurar-me de que estava salvo, e o “cara assustadora” passou a uma velocidade de uma chita tinha sido porque o Joca fizera uma imagem de monstro dos bosques na sombra que afugentou o pobre coitado. Todos se riram porque Joca estava apenas a tirar uma maçã da árvore!
Não, não fiquei zangado. Antes pelo contrário, pedi a Joca que me contratasse como assistente para batalhas futuras. Criei uma bisnaga cheia de mel de abelha para atirar para cima do próximo cara assustadora que vier. As abelhas tratarão do resto Ah! Ah! Ah! –“Bem agora, agora só me apetecia atacar os doces” disse eu sem noção de que me fizera ouvir. Todos se riram às gargalhas porque tinha doces escondidos sobre o meu pelo fofinho. OPS!
NO FIM, A FORÇA DA NATUREZA E A CORAGEM DA UNIÃO VENCEM!
Escrito por FLÁVIA MARTINS
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