Diário de duas Mulheres
Modernas: confidencias
em papel
Raquel de Magalhaes e Rute Mendes
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Dedicatória:
A todas as Mulheres que vestem o papel de Mulher e que lutam
por alcançar um mundo mais fiel e idealizado: Mães, mulheres que
podem ultrapassar fronteiras, liberdade, horários de trabalho,
escolhas, soluções. Às filhas e sobrinhas, futuras mulheres
modernas- Isanne e Ana Francisca, à nossa mãe Ana que sempre se
preocupou com o feminismo, às nossas tias e a todas as mulheres
modernas.
Não poderíamos deixar de dedicar este livro à linda Babel, Isabel
Castro que luta por compreender o porquê da ingratidão da perda
dum filho.
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Introdução:
A mulher que hoje assume diferentes papéis é hoje uma
mulher com M grande. Em forma de diário, duas mulheres - Vitória
e Íris falam das suas vidas desde o trabalho, as rotinas, o estresse,
as canseiras, amor, os filhos e dramas pessoais. Conceitos como
gratidão e honestidade pautam o quotidiano destas duas vozes
femininas. Em cada página escrita com uma forte carga psicológica,
ambas as personagens lutam e vivem para ser mais e mulheres.
Este diário aborda o Amor no seu conceito mais amplo, a Liberdade,
a Igualdade de direitos e deveres.
Em forma de defesa intima, estas duas mulheres falam do seu
percurso de vida com otimismo e determinação. Coragem e
persistência não faltam a estas duas vozes femininas que urgem na
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triunfal vitória com a defesa do Feminismo. Os dias tornam-se
meses e os meses anos. A brevidade da vida faz com que os relatos
deixados no diário insurjam numa intemporalidade inacabada.
Vitória e Inês vencem os dramas da vida e são verdadeiras mulheres
guerreiras de capa e espada.
Dedico esta breve introdução aos sonhadores, a todos aqueles que
lutam pela liberdade de expressão, que efetivamente sabem
agradecer a quem os ama, que procuram na leitura uma forma de
gratidão, de espiritualidade profunda.
Errado
Não sei que de errado tem aquele brilho...
Não sei porque findou a luz...
Não sei o que esse lado amargo me levou...
Sei sim, que essa palavra… Oh essa palavrinha voou
em torno desse leve toque... Dessa linda tarde...
O que te peço?
Oh, meu mago sábio, não sei, não sei...
Pedirei paz, calma, amor, luz, conforto, vida...
Oh não peço te ódio, revolta, justiça.
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Triste sábio fazes-me acreditar na vida?
Triste mago fazes-me acreditar na mudança?
Pobre crente, pobre irmão acredita na mudança.
Os que praticam o bem, receberão a luz triplicada.
Oh branco sorriso, oh mensageiro… Não te esqueças de mim.
Não te esqueças de elevar a minha mente. Afasta-me do Mal.
Aproxima-me do infinito. Traz-me Liberdade
“Aqui na minha frente a folha branca do papel, à espera; dentro de
mim esta angústia, à espera: e nada escrevo. A vida não é para se
escrever. A vida — esta intimidade profunda, este ser sem remédio,
esta noite de pesadelo que nem se chega a saber ao certo porque
foi assim — é para se viver, não é para se fazer dela literatura."
Miguel Torga
“Deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um
homem.”
Sócrates
“A mulher é o negro do mundo. A mulher é a escrava dos escravos.
Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu
dizes que ela quer ser homem”.
John Lellon
“O silêncio é uma confissão.”
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Camilo Castelo Branco
"A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é
válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz."
Sigmond freud
“As obras de arte são de uma solidão infinita
Apenas o amor pode captá-las, conservá-las, ser justo em relação a
elas.”
Rainer Rilke
Vinte e sete de fevereiro de 2014, Vitória – a voz feminina
do modernismo
O Amor como tema de reflexão para todas as coisas da vida
O Amor mas o que é o Amor? Um turbilhão de emoções que vem
e volta, que alegra e magoa. Nunca compreendi muito bem a forma
como as pessoas tratam o Amor. Faz-me muita confusão a forma
como algumas pessoas indolentes tratam o Amor, rejeitam o
próximo, ficam indiferentes com um mendigo que passa na rua, não
choram de alegria e fazem do amor (um sentimento tão bonito) um
verdadeiro drama. O Amor é bem mais complexo do que se possa
imaginar. A maioria dos comuns mortais não ama - sofre. O Amor é
partilha, proteção, compreensão, ternura e aconchego. Estar de
“costas voltadas” para o diálogo faz com que muitas vezes o Amor
seja ignorado ou quase esquecido no quotidiano das pessoas. Se a
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Morte existe e é fatal para quê falar dela? Não será mais bonito falar
de Amor? De coisas boas e positivas? Penso que sim mas no interior
das pessoas não mando. Apeteceu-me parar de escrever e fazer
uma pausa para comer uma maçã. Trinquei e saboreei cada pedaço
dela. O barulho dos dentes entoava no meu cérebro como uma
agulha que fere os dedos ao cozer roupa velha. Gosto de amar e ser
amada e não ignorar as coisas belas e positivas da vida: um sorriso
das minhas filhas, do meu marido ou um simples acenar de mão de
um ser estranho ou incógnito que vagueia na rua sozinho. Piedade
não é Amor mas compaixão. O Amor implica entrega, partilha e
dedicação.
Acabei a pausa e voltei a escrever de rajada. Não me apetecia falar
de pieguices mas na verdade, voltei ao tema central da minha
conversa interior: o Amor existencial e comunitário. Olhei em volta e
achei que estava perdida, só podia estar. Na realidade não estava
perdida mas sim acordada. Saí para a rua e acordei do sono
dogmático. Vi lixo e confusão. Do outro lado da rua, vejo arvoredos
verdes. Enchi os pulmões de ar e deitei o ar cá para fora. A minha
filha colheu uma flor branca, uma campainha que brotara no jardim
e anunciara a Primavera. Que cheirinho tão bom. Isto é um
verdadeiro amor, receber de uma mão tão tenra uma flor primaveril.
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Vinte e oito de fevereiro de 2014, Íris – a voz feminina do
existencialismo
Num instante…acordei
Acordei e pensei se em vez de lamentar as coisas negativas que
existem na minha vida porque não glorificar as coisas boas, as
coisas positivas… Num instante, pulei da cama e olhando para a
parede do meu quarto e para as flores singelas que a embalam
lembrei-me da primavera, dos campos lindos, lindos da minha avô,
que me fizeram viver a minha infância, a ternura da minha
mocidade. Acordei, acordei e vi Francisca cheia de energia com o
pequeno almoço na mão…pensei…tenho que te agradecer Deus,
porque tenho perto de mim pessoas que amo, que parecem estar
bem de saúde... Num instante esse matagal de coisas positivas,
fizeram com que as negativas fossem levadas pelo vento que se
fazia nessa manhã e assim a alegria alentou meu coração. PENSEI
…porque não pensar nas coisas que me fazem crescer, que me
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fazem viver. Porquê o lamento do que não possuímos em vez de
louvarmos o que conquistamos?
Mais adiante… fui encontrar a Francisca na sala, rompida pelo
gasto dos suspiros, pelo gasto do tempo. Lá bem no fundo encontrei
o meu baú, ornado de pupilas e cheio de livros, mais livros, papéis e
mais papéis. Num instante… lembrei-me do meu tempo de
faculdade, era magnífico o tempo em que ria, fazia brincadeiras,
risadas e mais risadas, nos intervalos das cadeiras. Era algo que
jamais poderia esquecer e lamentar na minha vida. Recordei
também o tempo em que todos os amigos de reuniam para almoçar,
lanchar, para desfrutar o tempo de estudante. Tempo em que Luís e
Raquel discursavam e discursavam sobre as filosofias da vida aliadas
à História. Esse tempo era deveras proveitoso, onde se faziam
maravilhas, onde eramos umas simples criaturas que apenas sabiam
ler, sabiam dar valor à cultura, à amizade e à simplicidade da vida.
Bem, mas havia mais uma Raquel que também falava do misticismo,
da possibilidade de abrir o seu consultório de “Tarod da vida”.
Digamos outra alucinada que ainda acreditaria num milagre, na
ilusão. Mas será que era ela a única a acreditar no sonho?! Bem,
não seria, pois todos nós viveríamos na ilusão dum sonho. Aliás,
questiono o leitor será que todos nós vivemos ilusões, ou será que
essas ilusões não passam de sonhos inerentes à realidade?
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Um de março de 2014, Vitória – a voz feminina do
modernismo
Hoje Vitória acordou mais sorridente do que nunca. Abriu os
braços sob o peitoril da janela cheia de cores e de restos de pó de
tapete sacudido à pressa. Olhou o sol e deixou que este lhe tocasse
na face como uma luz que vem depressa e volta de vez em quando.
Estava seriamente determinada, ou melhor eu estava determinada
em ir em frente. Eu, Vitória estava a pensar que “ para a frente é
que é o caminho”. Olhar para trás era demasiado perigoso para os
dias que correm. Os girassóis acordaram de manhã cedinho ao
mesmo tempo que o meu cérebro despertador acordou do
sonolento sono. Detesto dormir. Na verdade, o sono serve apenas
para repor energias gastas e acumuladas. Vesti-me à pressa e
depressa desci para fora de casa. O jardim estava particularmente
bonito. As flores estavam coloridas e a Primavera parecia, ou melhor
estava ainda longe de chegar. A minha voz, a voz que grita o
Modernismo é uma voz de luta por todas as Mulheres que lutam
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contra a violência doméstica ainda tabu para muitas mulheres.
Porque é que essas mulheres se calam? Porque é que o silêncio lhes
cobre a alma? Nunca entendi muito bem mas respeito a sua
situação de entes passivos.
A voz da luta está cheia de energia. As minhas cordas vocais
falam dessa luta. Encontrei-me com a minha irmã Leonor que
parecia esgotada pelo fato de não dar aulas já há algum tempo.
Animei-a e expliquei-lhe que nada disso era por acaso. Talvez esse
passo de espera servisse para ela fazer algo de útil. Nada é em vão
ou por acaso. As pessoas lamentam-se da vida. Devemos agradecer
e não lamentar. A saúde, a alegria são bens que não se conseguem
jamais. Meu Deus porque é que as pessoas não agradecem a vida
que têm? Nunca estão contentes com a vida que têm? Não percebo
mesmo. Há tanta gente por aí com problemas como uns quilinhos a
mais quando há tanta gente a lutar contra o cancro. Serão os
quilinhos a mais um problema comparado com o drama de ter
cancro? Essas pessoas só se preocupam com futilidades e coisas
sem interesse. Conheci pelo facebok, uma das redes sociais mais
atuais de hoje, uma senhora com cancro na mama que se espalhou
pelo corpo. Lutara contra esse cancro durante dez anos e felizmente
hoje está bem. É uma lutadora nata. Aí aplaudo esta Mulher com M
grande. Encontrei pelo caminho a minha vizinha que me sorriu na
face. Como adoro dar-lhe ovos quando se esquece de os comprar;
como gosto de trocar palavras com ela que se tornam em longos
diálogos; como gosto de ouvir aos seus dramas pessoais. Parei.
Olhei para o relógio. A manha passou a voar e ainda tenho que
comprar um quilo de verdinhos para a minha mãe fazer o almoço de
hoje. Esqueci-me das horas mas lá comprei o bendito peixe que me
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colocou o carro a tresandar de peixe mas tudo bem aceito. A minha
mãe não exige nada mas eu retribuo os seus gestos de carinho.
Cheguei a casa de carro. Peguei nos verdinhos e dei-lhos para a
mão. Ela foi logo prepará-los para o almoço. Comi com satisfação
sem pensar no drama atual dos quilinhos a mais. Será que as
mulheres só pensam nisso? ginásios e dietas? Não vos quero
ofender mas parece-me que sim. Claro que o bem-estar físico é
importante mas não o fundamental. Não leve isso ao extremo
porque pode tornar-se numa doença mental. Deixando esses temas
à parte, foquei-me na minha escrita. Comecei a escrever outro livro
novo que já andava a ser planeado há uns dias. O pensamento
discernia devagar mas depressa as folhas em branco iam sendo
preenchidas e alegradas com belas frases literárias. O livro estava a
ser concluído embora estivesse inacabado. Senti um cheirinho a
canela que vinha da cozinha. Comi macas com canela e passei pelo
jardim pela segunda vez. Plantei uns nabos de tulipas que quando
despontassem dariam lindas cores. Acabei o serviço com as unhas
sujas de terra. Ainda bem porque o trabalho foi realizado com
sucesso. Depois da jardinagem, ouvi um cd e deitei-me para relaxar.
Estiquei e alonguei as pernas. Deixei-me estar por breves
momentos. Adormeci sem querer mas as horas voaram e a noite ti
há chegado depressa. Sem insónias tudo estaria melhor e mais
equilibrado. Até ao dia seguinte novas ideias e novos
acontecimentos surgirão.
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