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Na casa da minha vizinha
As carícias são murros
E as bocas fechadas
À espera do silêncio
As paredes suam de terror
E transpiram o frio
Da respiração vacilante
Que sai da noite calada
Tic-tac, tic-tac, tic-tac
Faz o relógio da cozinha
Ah! Aaaah! Aaaaaaaahhh!
Grita a vizinha
E pum-pum, pum-pum, pum-pum
Faz o coração da filha
A plateia não foge
E a atriz principal não diz nada:
Tudo se vai num ápice
O sangue roxo fica dependurado
A polícia vem e vai
Para amortecer o corpo da pancada.
Certo dia chega tarde demais
E a televisão está lá
Para sujar o chão sagrado
Na minha casa (que não pode ser minha)
As carícias são murros
E as bocas estão fechadas
À espera do silêncio
A morte espreita
Numa porta encostada
E tudo continua a ser o que fora antes
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