Onde vais?

Onde vais que não te chego? Acalma um pouco o passo. Ando aqui desenfreado, já bati com a cabeça num poste, pisei um caniche e dei com o cotovelo na funcionária dos correios que foi fumar um cigarro no passeio. Já tropecei, atropelei carros, enfiei a bota direita numa poça de água e insultei o taxista que não me deixava atravessar. Já tomei dois copos de tinto, um bagaço e três cervejas pretas. Já cantei o hino nacional, porque se ele diz que sou um herói do mar, mesmo não sabendo nadar, preciso dessa moral para continuar a desfazer-me no caminho em direcção a ti. Só que mesmo assim não há jeito de conseguir tocar-te o cabelo. Caminhas muito rápido e eu tenho um joelho destruído. Queria saber onde vais com tanta pressa. Queria saber se percebes o meu passo desesperado no oásis dos teus ombros. Queria saber se me sabes. Onde vais que não te chego?