Cada passo que dou, uma cruz,
A negação é o meu hemisfério,
Misturo delírio e discurso de guerra,
Como fosse o mundo inteiro,
Inteiramente novo, “a sério”,
Sem qualquer relevo clínico,
Cem planícies planas em roda,
Cada passo me dói, igual outro
E outros mil, meço-os p’lo meu
Passar e p’lo que fica pra ficar,
Parado e em ponto de cruz,
Cada passo que dou, não me
Avança, apenas atrasa, traçado
De outra e outra vez, em viés
Ou em movimento d’pendulo,
Enviesado e manso, sem peso
Ou luz, desejo parido na alma,
Que a gente perde de alcançar,
Cada passo damos completa,
Uma pirueta e a impressão
De cadência que sentimos,
Nas pernas, passando uma p’la
Outra, parecendo tocar-se ,
Podendo ser outra coisa, a julgar
P’lo que deixei de viver em
Cada passo que dei, ponto d’cruz
Sem pés. Cada passo que dou,
Uma f’rida “ao tempo”, breve
E um novo sentido para uma vida
Que fede, e que é definido
P’los passos que não dou. O sucesso
Não é aquilo que parece “servir
À partida”, antes uma maldição
Pedestre, o “perder de vista”,
Numa suave, mal parida mentira,
Dos sentidos de General em greve.
Joel Matos (Fevereiro 2023)
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