Nunca tive facilidade d'agradecer nad'a ninguém,
Nem uma dor de dentes constitui pra mim
Uma aflição exagerada, sinto como um Lama
Do Tibete, não preciso agradar nem reprovo
Em absoluto, amo a tranquilidade como um recluso,
Uma obra de arte legítima, espiritual, privilegio
A intenção acima de tudo como uma cereja
Sobre um muro, coerente com o mundo
E consigo mesma, num todo a nossa substância
É igual, um resumo de matéria negra, ocultamos
Um caroço duro de roer sob a polpa lesada, a essência.
Eu nunca tive opiniões que me bastassem, no fundo
A aptidão em mim é silente, não vale quase nada
Nem interrompe o que penso assim como numa
Cidade deserta de funcionários, o silêncio também
É mudo assim como a pedra, som nenhum sai dela,
Nem o encanto é uma esquina por onde a tarde
Se evade, se esconde e eu nela, plagio o lusco-fusco
Sem pressuposto contacto físico ou um outro
Menos lícito, o assédio é uma terrível doença,
Na expressão de sentimentos cultivo a arte de
Despertar o que me incomoda, o que não acredito
Ou o que não tem solução, não quero o que não
Quero por uma questão de equilíbrio ou covardia
Perante o destino, assumo-me mercenário, por vezes
Mesmo num cenário às avessas, ao invés de cultivar
O esforço, pensá-lo sonhando - sonho-me pensando,
Pois a incapacidade de viver aparentemente cansa,
Cansa mais que viver abdicando de sentir pleno,
Caso seja uma sensação minha, um sinal de vida…
Reduzem ao mínimo as sombras vazias de conteúdo
Dos demónios da realidade que m'povoam desd'sempre …
Joel Matos ( 07 Janeiro 2022)
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