Portuguese
GRITO
Não há palavras que digam,
O que, às vezes, quero dizer,
E se as palavras mingam,
Fica o silêncio a crescer.
Cresce, cresce, sem dizer nada,
Mas, a mim, muito me diz,
Tenho a garganta cansada,
De calar o que não quis.
Tenho palavras amigas,
Que aprendi em cantigas,
Quando eu era petiz.
Cantei-as pela vida fora,
Mas as que preciso agora,
São mais, palavras hostis.
No dia em que se soltarem
E no papel se juntarem,
Até o papel s’ espanta.
É o alívio sublime,
E que já ninguém reprime,
Este grito da garganta.
LAF18MAI2020
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