Lá pelas terras do além mar, existia um Mentiroso que acreditava que era ele que havia criado a mentira. A Mentira, quando ouviu tamanho disparate, ficou indignada com tal afirmação. Afinal, ela sendo a representante oficial de tal afirmação, se sentiu ultrajada em sua dignidade. Mesmo não sabendo exatamente o dia em que nasceu, a Mentira desconhecia quem lhe havia dado esse nome. Por séculos sempre existiu e se considerava a senhora absoluta das inverdades que contava. Mentir era a única coisa que sabia fazer como ninguém e se orgulhava muito disso, pois seu caráter sempre fora duvidoso, disso ninguém duvidava. A mentira então decidiu procurar o Mentiroso e tomar satisfações. Em hipótese alguma iria admitir que um mentiroso qualquer lhe roubasse o título que ostentava com muito orgulho. Procurou em todos os cantos da literatura portuguesa e descobriu que o mentiroso se escondia sob o disfarce de um homem letrado, o que por si só já era uma grande mentira. Mentira por mentira, era melhor acreditar que um mentiroso mente mais que a própria Mentira seria capaz de imaginar.
Débora Benvenuti
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