E dentro de casa é onde começam a maior parte dos problemas, exactamente no local que deveríamos poder chamar de “lar” e onde devíamos poder encontrar a maior de todas as compreensões, aquela que advém do amor.
Hoje em dia no mundo em que vivemos é cada vez mais um gesto de coragem ou de extrema insensatez roçando a loucura, ousar partilhar a nossa vida com alguém.
É certo que temos os pais, sempre os fiéis companheiros de caminhada que estão lá em todos os momentos do percurso de braços abertos, à espera de nós, enxugando as lágrimas, reconfortando sem questionar.
É óptimo quando isto acontece. Maravilhoso sabermos que aquelas pessoas vão estar lá sempre para nós!
No entanto, refiro-me a outro tipo de relação. Aquela que criamos quando saímos do ninho que conhecemos a vida inteira e decidimos aventurar-nos numa relação a dois.
E isto tem muito, mas mesmo muito, que se lhe diga.
Sei que a vida não pode ser toda planeada e que imprevistos acontecem, mas, haverá de facto noção suficiente do que implica viver com alguém?
Não quero com este meu discurso alarmar ninguém nem tão pouco intimidar quem decidiu ou estás prestes a decidir dar este passo! Não! Não quero de forma alguma engrossar a estatística de solitários que por cá andam neste planeta!
A questão é que dei-me conta que é necessário e deve ser obrigatório pensar e estar disposto a muita coisa! E com isto não quero dizer que temos de nos sacrificar, fechar os olhos ou anularmo-nos enquanto pessoas!
É exactamente o oposto disto e é aí que o verdadeiro qui pro quo se dá!
Sempre tive uma ideia um pouco estranha certamente para muitos sobre o que deveria ser o verdadeiro amor entre um homem e uma mulher.
Digo “estranha ” porque tendo em consideração aquilo que vejo à minha volta todos os dias, duvido que quase todos entendam aquilo que vou dizer.
A verdade é que praticamente não se pode confiar a ninguém. Mas não poder confiar na pessoa que partilha connosco a cama todos as noites e com quem devíamos ter um sono tranquilo, é algo que me assusta verdadeiramente, mais do que um assalto ou uma violação de privacidade.
Ora vejo as coisas assim, temos os pais, alguns mais felizes e sortudos do que outros mas, tendo em consideração a minha experiência de vida e só a ela me podendo cingir para tecer esta opinião, supostamente são pessoas que nos amam e a quem amamos incondicionalmente sem questionar.
Não pensamos em deixá-los, trocá-los por outros mais atraentes ou “melhores”, nem sequer nos passa pela cabeça que a nossa relação com eles não seja sempre de amizade, companheirismo, amor, verdade e apoio!
Quando se tem filhos, o sentimento de pertença e posse é igualmente intenso e constante e também o que gerámos e criámos é um amor que transborda e nos acompanha para sempre.
Então, quando chegamos à relação homem/mulher, porque é tão difícil assim gerar esse entendimento?
Muitos frios calculistas e práticos diriam de uma forma científica (e infelizmente talvez bastante real tendo em conta o tipo de relacionamentos que vemos à nossa volta), que a escolha de um companheiro pode ter simplesmente como fim a procriação. É assim uma espécie de atracção mútua que tem como derradeiro fim a sobrevivência e continuidade da espécie.
A mim assusta-me que se pense assim, pois insisto, porque não pensamos deste modo em relação a quem são os nossos pais e filhos biológicos ou por afinidade e no entanto achamos que pode de algum modo ser legítimo pensá-lo em relação ao homem ou mulher que está ao nosso lado?
É absurdo e derradeiramente impraticável (conduzindo necessariamente a relações completamente devastadoras) aceitar este tipo de realidade na nossa vida de casal.
Podem-lhe chamar romantismo, mas, supostamente, numa época em que as relações já não são por conveniência ou obrigatoriedade, mas podem finalmente sê-lo por Amor e por gosto, completamente estranho explicar o porquê de cada vez mais desentendimentos e más escolhas.
Eu acho mesmo que tudo se deve a uma questão de más escolhas e acredito honestamente que há alguém para cada um de nós.
Mas as pessoas sentem-se mais pressionadas do que nunca em provar algo aos outros e por isso as opções são cada vez mais estranguladas e irreflectidas.
Primeiro, nunca devemos ficar com segundas escolhas. Da mesma maneira que pais e filhos só há aqueles e mais nenhuns, também no amor o companheiro/companheira certa é aquele e mais nenhum.
É certo que não nascemos ensinados e por isso temos que experimentar, ver, conhecer.
Mas aquele que continua eternamente a experimentar depois de já estar comprometido, está a pôr em causa quer o seu bem -estar emocional quer o bem-estar de quem está ao seu lado.
As segundas escolhas ou as relações medianas só têm um fim: o vazio.
Creio que maior parte das pessoas nunca encontraram a sua verdadeira metade.
Compreendo quão difícil é procurar e encontrar essa pessoa. Também compreendo que muita gente nunca o conseguirá fazer, mas, não será mais interessante morrer a tentá-lo do que viver frustrado?
Sim, neste momento há muitos homens e mulheres a pensar “ah, mas a minha relação até não é má, já vi pior”. Então e se pudermos conhecer o melhor?
Creio que ninguém sabe o que lhe está reservado ou está dotado de certezas absolutas, mas, se por um segundo que seja temos dúvidas sobre a pessoa que está ao nosso lado, sobre o seu valor, sobre a sua integridade, sobre se devemos ou não contar-lhe algo ou omitir, se temos necessidade de olhar para o lado para avaliar o homem ou a mulher que passa por nós, para avaliar a relação de outro casal que connosco se cruza, então não estaremos nós a mentir a nós próprios e a quem está ao nosso lado?
Todos temos o direito e o dever de esperar receber e dar o melhor. Todos devíamos viver de arrebatamento.
E quando não o fazemos, nós ou alguém está necessariamente a sair prejudicado. É isto o livre-arbítrio.
Não quero com isto dizer que vamos viver permanentemente em êxtase. Isso é impossível! A natureza humana é inconformada.
Mas com a pessoa certa ao nosso lado tudo se torna muito mais saboroso e agradável.
Ana Resende
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Mais uma vez, creio que
Mais uma vez, creio que terá ido ao cerne da questão. Quem trazemos para nossa casa? Ou com quem construimos o nosso lar? Com quem construimos a nossa própria micro-sociedade? A escolha de um companheiro/companheira, não é certamente a simples procriação. Isto é, não o será na grande generalidade das vezes. Teorias há que as mulheres acabam escolhendo os seus maridos/namorados com base aspectos emocionais, tendo como referência ou termos de comparação o seu pai ou outra figura paternal. Ai, a questão complica-se com os pais divorciados ou crianças orfãs. E vice versa com os homens, que terão como referência as mães ou uma outr figura maternal.
No entanto, creio ainda esta ser uma teoria demasiado redutora. Eu penso que a realidade será um pouco mais complicada. Todos nós, desde tenra idade somos projectados em grupos socializantes; A familia, a escola, os grupos de amigos, as equipas de desporto, com as suas regras muito próprias, os escoteiros, com os seus códigos de conduta e comportamento. Ora, todas essas regras sociais, imprimem em nós um quadro conceptual marcante e que se vai desenvolvendo com a idade. E ao procurarmos uma pessoa para partilharmos a vida, tendencialmente procuraremos alguém com o mesmo quadro conceptual, ou pelo menos parecido.
Isto transporta-me para uma realidade que eu vivi. No Liceu, tive uma namorada. Nada mais normal. Mas, ela era mais velha que eu, 2 anos. Tinhamos o mesmo grupo de amigos, frequentavamos os mesmos locais, logo os mesmos agentes socializantes, no entanto havia uma questão... Os pais dela eram bastante mais velhos que os meus. Até pode parecer um preciosismo, mas este pormenor, fez com que o conceptualismo social dela fosse tremendamente diferente que o meu. Eu estava na idade de sair, à tarde, à noite, de manhã. Numa cidade vibrante como a que eu vivi, era perfeitamente natural (para mim), sair de casa de manhã, ao fds ir para a praia, com os meus amigos, almoçar por lá, regressar a meio da tarde e à noite sair de novo. O que para ela e para as suas regras sociais era impensável sair de casa depois de jantar. E o jantar era sempre pautada pela hora de saida da escola. cerca de 20m depois (tempo entre o liceu e casa). Esta questão, ditou toda a cronologia de acontecimentos entre nós.
A sociedade é o mesmo. Ao vivermos em socidade, a minha liberdade começa onde acaba a de quem inteage comigo. Mas eu sou sujeito a acções socializantes, que quem interage comigo pode não ser e isto pode ser o inicio de conflitos. E será aqui que entram os estereotipos. Ou seja, os comportamentos padronizados que marcam uma sociedade. Se eu vou à igreja, tenho que ser cristão! Se eu sou atleta tenho que ser magro, se eu sou rico, tenho que se bem educado... Etc.E há estereotipos de toda a natureza! Económicos ou de classes, de comportamento, etc. Eu sou homem, logo não faço nada em casa, não cozinho nem dou banho às crianças. Mas tudo, parte de nós. Mais uma vez. Depende que quem escolhemos para partilhar a vida. Os estereotipos, existem. Em certa medida, balizam os nossos comportamentos, na medida em que o devem fazer, mas não acho que na vida em sociedade se deva grande valor.
Nos meios pequenos, todo o desvio do estereotipo é algo a comentar, a notar, a colocar de parte. O simples facto de uma mulher usar chapeu estilo british, numa pequena aldeia dará azo a falatório, certamente. Mas numa cidade como Lisboa, Porto, Madrid, num grande meio urbano, será que as pessoas ligam a estes desvios comportamentais partilhados pelas massas (estereotipos) ou estão demasiado concentrados nas suas questões, que nem ligam? E na nossa casa? Com os problemas do dia a dia, estremos mesmo preocupados? ou deve o bom senso imperar? Num relacionamento, num casamento e numa relação, seja amorosa ou de amizade, teremos mesmo que estar constantemente a experimentar para acertar? A minha mãe dizia que não era preciso errar para acertar, m as se temos forçosamente que errar em algo, então que o erro sirva para alguma coisa e aprendamos com esse erro. A experimentação faz parte da condição humana, se calhar até mesmo a bigamia. Ou em minha opinião, o Homem, enquanto espécie ja deveria ter evoluído o suficiente na sua escada evolutiva de forma a ultrapassar os seus instintos mais básicos. Creio que só assim poderá julgar em que medida os estereotipos se devem aplicar e saber avaliar as situações vis-a-vis.
Não sei se a Ana é casada, solteira, namorada, etc. Nem sei se é nova ou de mais idade, nem sei acerca da sua experiência de vida. O que talvez possa imaginar é que já se tenha deparado com um conjunto de situações em que se perguntou a sia própria, como deveria reagir perante determinada situação. Como a sociedade esperava que reagisse; Como é que queria reagir; e principalmente, como é que a conduta ditava que deveria reagir. Tive uma pessoa muito próxima de mim, em tempos que ao fazer um mero exame rotineiro mamário, lhe propouseram que "emprestasse" anonimamente o seu peito para que fossem tiradas algumas fotos para um colóquio de médicos. Estavamos uma situação fraturante num grupo de amigas. A pessoa em questão defendia que ainda que anonimamente, alguem iria saber de quem era aquele peito, o fotografo, o médico que fez a proposta, os pais, etc. Algumas amigas, disseram que era uma optima oportunidade e que o deveria fazer... Outras que não o fariam por nada, pelo simples facto de não havia real beneficio. Ou seja, os mitos dependem sempre dos objectivos que cada um de nós traça para nós próprios. Será possível, neste exemplo identificar um estereotipo? Um modelo de comportamento tipificado? Quer dizer, há apenas duas hipoteses; ou faz ou não faz. Mas quais são as verdadeiras motivações por detrás da situação?
Quer com isto tudo dizer, que creio que os mitos sociais, os estereotipos e a resposta social aos diferentes estímulos depende em última análise de nós próprios e do que queremos para nós num determinado momento. Claro, vivemos em sociedade e as nossas respostas dependem muito dos outros que nos rodeiam também. Assim como em nossas casas, onde temos que conjugar a nossa vontade com as de outra pessoa. E depreendo que a Ana não tenha filhos, pois se os tivesse talvez o seu discurso fosse... diferente. Os filhos são os primeiros a furar todos os estereotipos e comportamentos convencionais e a faze com que nós os furemos também.
Eu prezo-me por ser alguém tradicionalista nos valores e principios e liberal na forma de encarar a sociedade e as relações interpessoais. Sou um liberal com limites ou um tradicionalista de meio termo. Mas compreendo que a sociedade é animada por pessoas. E no comportamento humano, a subjectividade é imensa, logo não será uma contradição falar em estereotipos, enquanto padrões comportamentais padronizados e natureza humana?
Bem haja, Ana pelos seus textos.