A casa onde vivi a minha infância é repleta de estórias e cada uma mais engraçada que a outra. Lembro-me de um dia, em que brincava com a minha irmã de pouco mais de um ano, no lado de fora da porta da cozinha. Como ela era pequenina, coloquei-a em uma caixa de papelão que encontrei no pátio. Não havia um cercadinho para colocá-la. Naquela época era tudo improvisado. Achei que ali ela estaria protegida e fiquei brincando com ela por um bom tempo. A rua da nossa casa era o portal de entrada da cidade e por ali passava a boiada indo para o matadouro. Muitas vezes meu avô gritava para entrarmos em casa, quando brincávamos na rua. Então corríamos a olhar a boiada passando através da janela do meu quarto. Nesse dia, brincávamos tranquilamente, quando de repente eu olhei para o portão da garagem e vi um boi brabo entrando por ele. O boi entrou na garagem, depois saiu novamente, vindo em nossa direção. Fiquei petrificada de susto. Naquele momento não sabia o que fazer. Vinha atrás dele um cavaleiro, mas percebi que o animal não seria laçado em tempo de eu correr, pegar minha irmã e entrar pela porta da cozinha. Como ela era pequena e estava dentro da caixa, achei que o boi passaria por ela e não a veria. Então corri e fechei a porta. Lembro-me apenas de meu avô tê-la erguido pelo braço e fechado a porta no exato momento em que o boi se aproximava. Foram segundos que pareceram um século. Tinha eu nesse tempo um pouco mais de seis anos e uma difícil decisão a tomar. Se me abaixasse para pegar a minha irmã, talvez não houvesse tempo para correr e então optei por deixá-la na caixa, pois era tão pequena que imaginei que o boi não perceberia a presença dela. Meu avô foi mais rápido que eu e a recolheu no momento exato em que o animal se aproximou. Vimos através da janela que o boi enveredou pela calçada que circundava a casa e saiu pelo portão da frente. Esse dia eu jamais esqueci.
Débora Benvenuti
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Nota: imagem retirada da net
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