Certa vez fui trabalhar em uma escola de Novo Hamburgo/RS que era conhecida pelos altos índices de disparidades sociais. Quando se referiam aquele bairro, diziam sempre assim: entra quem quer, sai quem pode. Quando ouvi esses comentários, fiquei um tanto receosa. Ao chegar à escola, a diretora me disse que havia muita falta de professores. Eu era professora de Educação Artística, mas além da minha disciplina, a diretora me pediu que ministrasse aulas de Ensino Religioso. Como não tinha nenhuma noção de conteúdo, fui até a biblioteca e encontrei uma coleção de CDs com parábolas da bíblia, na voz de CID Moreira. Precisava entrar em sala aula naquela manhã mesmo. Não sabia o que fazer, mas pensei comigo: vou colocar os CDs para eles ouvirem e vou rezar para ter uma boa ideia enquanto eles ouvem. Enquanto eles ouviam atentamente uma parábola, pedi a eles que desenhassem a mensagem da forma como eles tinham entendido. Enquanto conhecia um pouco da vida de cada aluno, uma menina me contou a seguinte estória. Disse-me assim: professora, hoje eu devolvi na escola a carteira de um professor que meu pai assaltou.Eu fiquei incrédula com aquilo e ela continuou. Meu pai é assaltante, mas quando ele soube que o homem que ele havia assaltado era meu professor, me deu a carteira e disse: Devolva a carteira e peça desculpas a ele. Professor eu não assalto! Fiquei em dúvida se ele quis dizer que assaltar professor não valia a pena por causa dos baixos salários ou se era por que lá no fundo ele tinha respeito pelo professor.
Débora Benvenuti
Recent comments