A Lágrima e o Pensamento

A Lágrima não conseguia se conter. Por mais que quisesse, a Lágrima sempre escorria quando o Pensamento aparecia e a fazia lembrar-se de coisas que ela não queria lembrar.Por mais que se esforçar-se para fingir que nada acontecia, era impossível manter a Lágrima escondida no fundo do seu ser. Ela era teimosa e muito sensível. Manter a Lágrima escondida era um esforço quase sempre inútil. Ela descia incontrolável e formava um rio caudaloso como se fosse uma cachoeira a deslizar montanha abaixo. O Pensamento nestas horas se aproximava e a lembrava daquilo tudo que ela mais queria esquecer. Não bastava ela dizer que não queria lembrar. O Pensamento sempre estaria lá para não deixá-la esquecer. E como esquecer, se o Pensamento ia e vinha a qualquer hora do dia ou da noite e ali permanecia por um longo tempo, fazendo a Lágrima escorrer silenciosamente pela face. Seria muito bom se não conseguisse pensar, mas como não pensar...? Era necessário apagar todas as imagens que o Pensamento insistia em fazer passar, como num filme em câmara lenta, cujas imagens eram cada vez mais reais e assustadoras. Talvez um dia as Lágrimas secassem. Então o Pensamento iria sumindo pouco a pouco e aquelas imagens iriam se tornar apenas um borrão sem nenhuma importância. Se não desse importância, o Pensamento não mais voltaria e se não voltasse mais, a Lágrima não mais tornaria a cair...

Débora Benvenuti

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