Muito antes de existirem os supermercados, existiam os armazéns, que eram locais onde se ia para comprar produtos à granel. Tudo era guardado em tulhas de madeira e depois pesados e colocados em sacos de papel. Todo o final de tarde meu avô ia na minha casa tomar chimarrão com a minha mãe e comer o pãozinho assado no forno de tijolo. Às vezes ele chegava lá em casa e a mãe percebia que faltava erva para o tal chimarrão. Então me chamava para ir até o armazém da esquina e me pedia mais alguns produtos que estavam faltando em casa . Ela enumerava todos e me perguntava se eu não ia esquecer. Eu sempre respondia que não. E lá ia eu no armazém da esquina comprar os produtos. No caminho ia repetindo baixinho tudo o que a mãe havia pedido. Chegando no armazém, precisava esperar que s cliente que haviam chegado primeiro fossem atendidos. Eu ficava repetindo tudo para não esquecer, mas quando chegava a minha vez, eu trocava tudo. Nunca lembrava exatamente quantos kg a mãe havia pedido deste ou daquele produto. Trocava tudo. Quando chegava em casa, minha mãe perguntava: onde está a erva para o chimarrão,que teu avô ficou esperando? E eu respondia para ela: - Mas a senhora nem falou em erva...Ela fazia eu voltar ao armazém e trocar tudo o que havia levado errado. Então o dono do armazém me perguntava sempre:
- Tem certeza que é isso mesmo que a tua mãe pediu?
Ao que eu respondia: tenho certeza sim!
- E o dono do armazém me dizia assim:
- Se tiver que trocar de novo, eu não troco não. E eu voltava para casa rezando para que estivesse tudo certo...
Débora Benvenuti
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