Lembro-me de estar na tua cama a desejar que o toque dos teus dedos sobre a minha pele me fizessem arrepiar. Não sei que tipo de arrepio senti. Mas senti. Alguma coisa senti. Com certeza. Senti demais. Penso agora. Que não estou na tua cama. Na cama onde me despiste. Onde fiquei nua para ti. Onde me deixaste. Nua de roupa. E da alma também. Deixaste me nua na cama onde hoje despes alguém. A tua cama. Que em tempos a partilhaste comigo. Lembras-te de quando passávamos horas a fazer trinta por uma linha nesse colchão? Lembra-te lá. Das brincadeiras de dois putos histéricos que achavam que se amavam. Parvoíce. A nossa. Aliás, a tua. Que me deixaste nua, sem saberes que quando me tiraste a roupa, já seria tua para sempre.
Para sempre. Não direi tanto tempo. Até porque tempo foi o que nos faltou. É verdade.
Os dias e as noites não foram suficientes para nós. Não chegaste a ser o que eu queria que fosses. E muito provavelmente não fui para ti o que eu queria ter sido. Não tens culpa. Nem eu. Tínhamos vontade. Muita. Mas não tínhamos tempo. E se eu um dia achei que a madrugada era o suficiente para te amar. Estava enganada. Como me enganaste. Quando disseste que seriamos tudo o que quiséssemos ser. Contigo fui tudo. E fui nada. Paradoxalmente, contigo sou tudo e nada. Ao mesmo tempo.
Gostava que me visses agora, na mulher que me tornei depois de ti. Gostava que me comparasses com a menina que despiste na tua cama, onde hoje despes alguém. Gostava de ter conhecido melhor o teu corpo. Gostava. Mas não houve tempo. Foi isso o que nos faltou. Para sermos hoje, o que fomos antes.
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Gostei!
Gostei, sim senhora!