A minha cidade…

 

A minha cidade…

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 A minha cidade…
 Portas pequenas, casas baixas e telhados de tijolo já desbotado assistiam calma e tranquilamente aos encantos de cada amanhecer.
 Aos poucos, fui reparando nos hábitos dos habitantes, acossados nos afazeres da vida, distraídos com a atenção que iam dispensando a cada momento das suas funções.
As montras eram originais e repletas de anúncios sui geniris pelo momento que se vivia.
Era o dia da MULHER.
Era um desses dias em que a vida nos frangalha a memória de tempos passados…mas onde vim eu parar!
Os restaurantes estavam cheios, e lá dentro as mesas eram ocupadas por almas unidas na mesma paixão e pela magia do amor, que um dia se cruzaram num passeio qualquer.
Ahhh como era enorme esta diferença! Eles e eu.
Parado num semáforo dei comigo a pensar; “o que foi que eu fiz de mim?”.
Lembro-me que nesse dia já me doíam os pés de tanto caminhar e até nas botas tinha um buraco no meio da sola…as calças eram de ganga roçadas e gastas das noites frias e chuvosas do Inverno passado. Trazia uma T-shirt que já não se distinguia a cor da imagem no algodão pelas vezes que se torcia do suor do meu corpo.
A mochila que me vinha às costas era cada vez mais pesada do carrego das experiências que ia enchendo na minha viagem. Esta cidade era diferente das outras…tinha as casas baixas e os passeios eram largos.
Incrível! Nem fome me chegava. Incrível! Nem sono tinha. Incrível! Estava sozinho.
Nesta mochila trazia uma flor já seca p´lo tempo para entregar àquela mulher, que ano após ano eu ia perdendo na memória, mas esta flor era uma rosa encarnada, cheia de paixão, de amor e de carinhos que eu um dia não consegui entregar.
Não tenham pena de mim, porque fui eu que escolhi este caminho, este trilho, este beco, esta estrada. Afinal fui só mais um meliante de cabelo comprido e mal cortado que vagueava pelas estradas, calçadas e vias apias, que um dia os Imperadores de outrora mandaram fazer para se servirem…que saudades!
Esta cidade tinha as portas pequenas, de fácil acesso e quase todas da mesma cor.
Eu gosto desta cidade e sabes porquê? Porque esta cidade sou eu, o dia era teu, a mochila era o meu coração e o peso que lá estava dentro eram os meus sentimentos.

José Mirador Santos

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