Não são tormentas nem tempestades
Não alagam nem afogam
São bátegas que vêm e vão
Umas vezes deixam outras não
O sol brilhar e aquecer
Molham e deixam rasto
É um momento continuado
Que ao longo do tempo discorre.
Nos campos sacia a sede,
Florescem as árvores crescem os rebentos
Abrem as rosas recolhem-se os pardais
Mesmo a destempo vem a tempo.
E na alma essa chuva miudinha
Não provoca descalabros nem desatinos
É um lágrima ou são mil que escorrem
São momentos que sem lamentos ocorrem
É a tristeza que vem sem saber
Vai e volta ao sabor do vento
É o estar só no Rossio cheio de gente
Até encontrar aquele velho amigo
Que de contentamento nos quedamos
Logo se esquece essa chuvinha molha tolos
Que tanto arrefece e nos tolda
Como se a luz do sol de repente
Por entre o cinzento das núvens e das lágrimas
Voltasse de novo a sorrir e apetecer cantar e pular.
Logo mais à despedida quando a noite chegar
Já com as flores a descoberto e o fruto encarnado
Não se recorda nem se vislumbra
Nem pingo de chuva ou dos olhos
A saia, o véu e o casaco secaram
Os olhos secaram e voltam a brilhar
De novo a terra fica pronta a trabalhar
E o coração ritmado a funcionar
Foi assim chuvinhando no tempo
Que deu afinal alimento e alento
Deu vida ao pasto seco e sedento
E alívio àquela rajada de alma triste.
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