Falas-me do tempo! Falas-me de memórias que nunca eu vi mas que as sinto como se as tivesse vivido! Falas-me de pequenas Ofélias que com pés de pedra se dissolveram, pela dor de amar, nas tuas correntes! Falas-me! Falas-me em silêncio de quem tem vergonha de se mostrar a si. Ai! E como poderei eu em ti confiar quando estás constantemente a mudar? Por vezes, gostava de te ver congelado para ter a certeza de que quando passo por ti poderei outro dia passar. Chamam-te um nome, mas a verdade é que tu nunca és o mesmo. Segues sempre, para baixo, o teu trajeto sem pressa de chegar mas de quem, e isso com certeza falo, não vai mais voltar. Conto-te os meus segredos em diálogos de pensamentos e, mesmo assim, ousas de os guardar e de os levar para as profundezas de qualquer mar. Triste alma que na tua imensidão mergulha em braçadas de inocência vil... No decorrer das horas, dos minutos, viste-me crescer e em mim traças-te marcas ríspidas de quem ainda tinha muito que viver. Hoje, ao teu lado, doce Tâmega, venho-te trazer histórias daquele miúdo que não queria ver. Venho-te entregar de braços nús de qualquer maldade, este coração ainda sujo da pureza das noites mal dormidas onde só a lua, que tantas vezes refletes para que homens que se privam de olhar para cima a possam ver, me sabia indicar as coordenadas do teu leve passar. E, se ainda de mim não desaprendes-te a confiar, quero-te pedir, para quando eu voltar me olhares de frente.
De frente, como Atena, que transporta nela o peso da razão e não tem medo de julgar quem merece ser julgado. Que me dês colo. Colo, como uma mãe que segura nos braços o filho ferido da guerra e com frieza lhe lava as chaga abertas de balas recentemente disparadas. Por fim, quero em breves movimentos a minha mão sobre a tua face passar para comigo, mais uma vez, te poder levar.
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