Contigo ganhei tantos vícios penso enquanto o cigarro pende nos meus lábios. O fim de tarde traz uma brisa de Outono e há uma dança de cores quentes que me rodeia. O banco onde me sento fora antes ocupado por dois.
Contigo ganhei tantos vícios penso enquanto uma pequena chama dá lugar a um fumo suave no meu cigarro.
Inútil.
O fumo que inspiro não vai levar consigo a tua imagem. A cafeína já nem tem efeito: é o teu fantasma que me mantém acordada. O álcool, em que tanto me perco nas noites a só, não vai lavar e arrastar consigo as memórias, que agora me parecem tão artificiais. As longas noites debaixo da Lua não me darão a serenidade de que preciso.
Contigo ganhei tantos vícios mas dou mais uma passa, lenta e que, embora mortífera, não vai matar em mim o que eu quero que morra.
Quero que saias de dentro de mim, que abandones os meus pensamentos e que não me corras mais nas veias.
As cinzas voam com a brisa. Voa com elas também.
Disseste que ias embora mas estás ainda tão presente e eu só quero estar sozinha. Deixa-me envenenar-me nos meus vícios que ao pé de ti são tão inofensivos.
Contigo ganhei tantos vícios e tu foste o pior de todos.
Esmago a beata debaixo dos meus pés. Já é de noite.
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