I
Voarás no desejo de não ter
Esconderes-te-ás na vontade de não me ver
Serás visivelmente invisível
Verás sem poder ver
E quando acordares
Já será de dia
E a noite parecerá já longínqua
E o mar,
Apenas uma gota
II
Corremos para o mar
Mergulhamos
Não te vejo
Não te oiço
Corremos para a areia
Não me oiço
Não te vejo
A ausência de nada ser preconiza-se por dois aspectos
Aquele que se verifica
Quando estou e não sou,
Aquele que se vê quando eu não me vejo.
E aquele em que sou e estou
Mas em que a voz não se ouve.
III
Corremos para o mar
Não nos vejo
Aquele que estou e sou
Não me vê
Não me vejo
Corremos para o mar:
A verdade de existir
Não existe.
IV
Quero ser tua
Encontrar-me nas tuas esquinas
Crescer na tua rua
Viver no asfalto em que pousas os pés
Percorrer o teu corpo de lés-a-lés
Naquele lugar em que não estou eu
Que o espaço ocupado não é o meu,
Quero existir sem verdade.
Assim de longe,
Em que o espaço ocupado é meu e teu,
Escreverei sobre o que tu talvez sejas
E sobre aquilo que não és
Estarei sempre errada,
E sempre certa.
V
Em frente,
Como quem olha fixamente
Para não perder nem um momento
Nem um pedaço de tempo,
Há um mar de azuis etéreos
Brilhantes como a voz do teu olhar calado
E as ondas,
Se de repente entrassem em nós
Como que a deitar abaixo toda a corrente da vida
Que seríamos nós
Que seria de nós a navegar na luz dos olhares
Para depois cair
De volta à terra, já sem nada
VI
Absoluto irracional...
A imaginabilidade da tua pessoa.
Do teu ser
Propicio
Do teu ser
Precipício
Absoluto irracional
A incompatibilidade de ser e dizer
Do res e do rezid
A incapacidade de rezid algo coerente
Reside em estar inconsciente
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