Poema do canivete suíço

 

Poema do canivete suíço

Portuguese

temos uma insuficiência inteira para conseguirmos ser suficientes

uma sombra: a sombra vem: a sombra não nos deixa

nós podemos ser a sombra: podemos ir: podemos não deixar alguém

ser abrigo, ser âncora, ser suficientemente tudo

nada. nada pertence à penumbra da inércia:

somos um copo que parte, um corpo que parte, uma parte que incorpora:

temos um limite de capacidade para darmos a escusa de sermos incapazes

apunhalamos a nossa penúria com os retalhos envidraçados:

o vento derruba, o vento sufoca, o vento isto, o vento aquilo.

a nossa condição é frágil: a nossa função é estimar o frágil sem condição.

somos um beijo que não toca, um toque que não beija

somos a décima parte do que existimos e a totalidade do que temos.

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