Relatos de uma vida pouco viajada

 

Relatos de uma vida pouco viajada

Portuguese

O meu maior sonho é o mesmo desde que me lembro de existir. Anseio por conhecer o mundo e todas as maravilhas que ele tem para me oferecer. Gostaria que a vida tivesse a opção de andar lado a lado com o nosso maior desejo mas a realidade crua é que tenho contas para pagar e trabalho a fazer. Sim, tenho férias, mas nem assim encontro estabilidade emocional para me arriscar dessa maneira. De que me serve viajar se tenho datas e horários para cumprir? Não posso largar o relógio pois se o fizer não telefono aqueles que se preocupam comigo e eles começam a preocupar-se sem motivo aparente. Não me interpretem mal, eu gosto de me sentir amado e desejado mas chega a ser sufocante ter de andar com a mão colada a um dispositivo tão insignificante. Como posso eu descobrir o mundo e aventurar-me nele quando me tentam prender a tanto custo? Não posso. A triste realidade abate-se sobre mim e é neste preciso momento, ao olhar pela janela, que percebo que o meu maior sonho nunca passará disso mesmo. Enojo-me ao pensar na minha cobardia de necessitar de alguém em vez de perseguir aquilo que me acompanha desde sempre. Os anos passaram e tenho agora 92 anos e a minha saúde não podia ser melhor. Muitos dizem que foi o meu estilo de vida saudável que me fez chegar aqui mas eu sei perfeitamente que não foi isso. O meu sonho embalou-me nesta viagem da vida desde os meus tempos de bebé até agora. Foi a única viagem que fiz na vida.

Nasci, cresci, vivi e morrerei aqui. 

O sonho está agora morto, tal como eu...

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