No Bar da Noite

 

No Bar da Noite

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No Bar da Noite

Aquele Bar, onde a escuridão da Noite se encolhia junto à pequena janela. Ao fundo uma tremura luz reluzia e  o som vinha de uma viola desafinada que um jovem fazia soar.

Entrei, deixei-te inundar por aquele som e esqueci-me de mim. O meu corpo quase inerte e as minhas mãos tremiam com medo... De serem levadas...

Pedi uma bebida, chá bem quente, e de ervas doces, e permaneci nos meus pensamentos ao som daquela viola.

Ouvi uma voz, uma voz longínqua e absorvente. Não sei de onde vinha, mas o meu interior sentia-a persistentemente: " Deixa-te permanecer neste momento, só ouve o som e bebê o chá". Pareceu-me ter feito uma promessa, mas já não sei se ouvi ou pensei, mesmo assim, era muito real.

E o chá foi arrefecendo e meu corpo também, o som era cada vez mais desafinado e a luz tremula tinha tornado a brilhar com mais intensidade.

Seria hora de partir, de ir sonhar em outro lugar. Nem sei o que fazia ali, mas o meu ser encaminhou-me e levantei-me lentamente para tomar rumo ao meu canto de sono.

Continuava presente aquela voz, mas como sempre achei, seria fruto do meu desvaneio. Insistia: "Permanece..."

Mas o frio mandava-me recolher e saí daquela Bar escuro, numa noite sem luz e de pensamentos confusos.

Encontrei o calor na minha cama de penas artificiais e deixei-te dormir até o amanhecer me acordar.

Voltei a mim, cheia de sono mas com vontades de caminhar. Era Domingo, podia estender o meu dia sem horas a cuidar.

Vesti um bom agasalho e vi o sol espreitar naquela manhã fria de fim de Outono.

Caminhei pelas ruas daquela cidade que era como minha, mas só me viu nascer.

Passei no Bar daNoite e faziam limpeza daquela escuridão fria da Noite passada. Uma empregada olhou-me como se me quisesse dizer algo. Voltou a olhar-me e de súbito disse:

- Desculpe, mas ontem à noite esteve aqui? 

Lentamente virei-me e confirmei que falava comigo e petrifiquei ali à espera de mais alguma informação.

- Alguém a procurou, logo após ter saído, um cavalheiro bem apresentado. 

Como quase nem reagi, ela continuou: - fez-me uma descrição de quem procurava e lembrei-me logo de si. Disse-lhe que já tinha saído e que mais não poderia dizer.

Foi então que senti aquele arrepio e descobri o que me tinha levado ali naquela noite. Agradeci e permaneci na minha caminhada matinal tentando encontrar-me.

Conseguir voltar ao ponto de partida seria uma ilusão, então resolvi apenas lembrar o que os meus sentidos me aconselharam,e eu deixei partir...

No Bar da Noite o som da viola é desconcentrado, mas a voz do meu interior queria que eu permanecesse naquele som e naquele chá...

 

2016-02-01, SondoMar

 

 

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