Os montes da minha vida inteira

Em toda a minha vida não vi que não paisagens,

e são só paisagens que eu guardo em memória

onde estão meus sentimentos expressos em algo que existe.

Seja numa montanha,

seja num lago,

ou numa amendoeira em flor.

Todos os meus sentimentos estão na natureza.

como que palavras presas a imagens que falam,

como que retrancas nas pontas bicudas das pedras, espetadas,

como que fruta doce em lábios de alguém que lá não existe,

ou rios que correm em corpos que se banham,

ecos de palavras que se espalham em extensos campos de trigo,

ou lágrimas de orvalho na cara de um pastor.

Todos os meus sentimentos não são mais

que o cantar de um grilo,

uma noite gelada de inverno

ou folhas caídas no chão.

Campos cobertos de geada,

manhãs de nevoeiro, 

nos olhos de quem só quer ver.

Ah, que maçada estar cego assim!

Meus dias são vento que passa,

que cheira a jasmim ou cidreira,

dos montes da minha terra,

dos montes,

da minha vida inteira...