O Ortopedista

 

O Ortopedista

Portuguese

 

Era um final de sábado ensolarado e eu voltava da casa de uma prima. Como gostava muito de ler ,trazia comigo várias revistas e romances, que pretendia ler no final de semana. Estava cursando o a faculdade de Artes Plásticas lá pelos idos dos anos 70. Nessa época, o uso da mini-saia era muito comum e eu sabia que podia usar e abusar desse ítem de vestuário. Caminhava devagar, sem pressa de chegar em casa. Em algum momento, percebi que um carro me seguia e então eu atravessei a avenida para o outro lado. Não adiantou, o carro continuava a me seguir. Quando estava quase chegando em casa, o carro estacionou ao meu lado e o homem que estava dirigindo, me disse que não tivesse medo. Perguntou se eu não podia conversar um pouco com ele e se apresentou como sendo ortopedista e que estava na minha cidade visitando uma irmã, mas que morava em uma cidadezinha do interior. Ele era um homem muito atraente, de olhos azuis e se vestia muito bem. Depois de conversarmos um pouco, ele me convidou para jantar e eu aceitei. Quando ele chegou, estava muito elegante, Tinha um Dodge Dart verde limão, que era o carro da época. Chegamos ao restaurante em que íamos jantar e fomos recepcionados elegantemente pelo porteiro, que abriu a porta do carro para eu descer. No próximo encontro, ele me enviou um bouquet de flores com um novo convite para jantar. Depois dessa noite, ele quis ser apresentado para os meus pais. Marcamos o dia e a hora. Minha familia morava em uma cidade do interior, mas que ficava bem perto da cidade dele. Combinamos às 20 horas. Quando o relógio terminou de bater a última badalada e ele ainda não tinha chegado, eu saí com a minha irmã e fomos ao cinema. Eu aprendi a ser pontual com o meu pai e ninguém nunca esperou por mim. Ele chegou à  minha casa uns vinte minutos depois. Perguntou por mim e minha mãe disse que eu havia ido ao cinema. Ele não gostou e foi me buscar no cinema. Como o filme era dupla sessão, eu assisti a primeira e estava saindo quando ele me encontrou. Levou-me  para casa e me disse que  havia se atrasado porque precisou atender a um paciente que sofrera uma fratura. Depois dessa noite, nunca mais nos vimos. Passado um ano, ele apareceu novamente na minha casa e me pediu em casamento. Disse-me que de todas as namoradas que ele havia tido, era comigo que ele queria casar. Eu respondi que não, pois estava com outro namorado. Não quis acreditar muito nele. Pensei comigo, que se ele quisesse mesmo casar, ele voltaria a me procurar em outro momento. Nunca mais voltou. Casou-se com uma ex-namorada. Quando namorávamos, saíamos muitas vezes para jantar e ele sempre escrevia poemas nos guardanapos de papel. Eu guardei por muitos anos e de tão bem guardados, nunca mais os encontrei. Com certeza, meu destino já estava traçado...

 

Débora Benvenuti
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