-Filhos do Acaso -
Acaso sabem que nada acontece por acaso? Acaso sabem que por vezes o avesso é o lado certo? E que depois de um circulo não está necessariamente o mesmo lugar?
O Acácio sabia.
Sabia mas não dizia. Guardava o sentimento sempre para outro dia, talvez porque no fundo não sentia. Não sei, como já disse, o Acácio sabia. Mas ali andava, a fingir que vivia.
Ia o Acácio, muito dono do seu estilo, a pesar a sua vida, mais ou menos quilo, quando deu por mim, triste e intranquilo.
- Então? Não lhe dás vazão? Disse-me ele como se não soubesse que o meu problema era o coração, comigo ali solene, de bandeira na mão.
- Não – respondi de antemão- que as coisas da vida não são regradas pela razão!
O Acácio riu, e antes de o mandar para a puta que o pariu, ele retorquiu:
- Eu vi o que ninguém viu e ouvi o que ninguém ouviu. Sei tudo, desde o nascimento do universo ao tacto do veludo, sei tudo, e conseguia contar mesmo que fosse mudo…
O Acácio sabe, pensei, à frente disto amansei, tudo o que o Acácio diz é lei!
…eu sei! E perante toda a verdade nunca chorei.
Ia saber todas as respostas ao meu problema –sonhei- resolver todo o meu dilema!
E depois deu-se o facto. Agitar frenético a bandeira foi o meu único acto.
Este labor é um bocado chato, avisar do comboio que aqui passa de jacto.
Fiquei sem conhecer a solução, para todos os problemas do meu coração.
Talvez se em vez da passagem trabalhasse antes na estação.
Mas aqui sabia que aí vinha o comboio.
O Acácio não!?
Rui Henriques
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