Corpo nú
Vestiste no corpo nú
atrozes palavras de Inverno.
Como se as palavras te cobrissem a nudez.
E tu,
com essa doce e ingénua timidez,
que te fica tão bem,
lançaste-me as palavras à cara e ficaste nua de novo.
Sei o que queria dizer com essas palavras tão frias,
sei que parecia não ligar ao que dizias.
Digo-te agora, nesta hora,
agarrei nelas e vesti-as!
Vesti-as como se fossem minhas.
Sem saber porque o fizes-te ou ao que vinhas.
No fundo sabia o que ias fazer,
ias falar e não ias volver.
E foste embora.
E pensei por momentos - É ela que chora-
Eram apenas a chuva de palavras de Inverno que me ofereceste.
E diluisse o véu do sonho que destruiste.
Sim, não quero que o tempo volte para trás,
para um passado que morto jaz,
que saber se o amanhã me satisfaz,
ao que julgo saber, só o amanhã é misterioso
e ainda que seja glorioso,
sei sem magua que não vais lá estar.
Sei pelas vestes de Inverno que dizes transportar.
Sei que não vais lá estar.
Rui Henriques
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