Carnaval, XX, à noite.
Aqui é só um lugar. E o céu é sempre o mesmo. Mas que lugar!
Todos os lugares são iguais debaixo do céu. Entre teu ombro e tua orelha, teu cheiro é o meu lugar. Tanto lugar, tão pouco tempo. Nem todo o tempo seria suficiente para teu cheiro.
Setembro / Outubro de XX
Casa vazia. Não resta nada. Todo o resto você levou. O tempo que você levou.
Desta prisão. Não resta nada . Além das paredes não resta nada. Você não deixou o tempo que levou desta prisão.
Setembro / Outubro de XX
Naquela noite você estava nu e eu não pude fazer nada. Eu queria ter sido ser tocada por você, mas ficamos ali apenas rindo
Setembro / Outubro de XX
Não há mais arte a ser perseguida. Há apenas a técnica dura das coisas do mundo. Não há mais beleza. Há a carne exposta das coisas do mundo.
07.09.XX. Sobre si mesma
Do inferno onde estou não vejo nada além dos teus olhos. Vermelho-sangue. Entre círculos e cinzas, cego. Mesmo assim eu vejo. Do inferno onde estou. Nada além dos teus cabelos. Fogo. Entre círculos e cinzas, cego. Mesmo assim eu vejo você.
Setembro / Outubro de XX
Tomou um banho longo, como se não houvesse nada a fazer além disto nem neste dia nem no século inteiro. Enquanto reparava na espuma entre os joelhos, pensava: “Severine, já tens idade para deixar dessas vadiagens”.
Setembro / Outubro de XX
O café arábica na boca dele havia se tornado veludo sob o meu palato.
Setembro / Outubro de XX
Com perfume / Sem perfume / O cheiro do outro / O cheiro dele.
Ao ouvir isso, dizia que também gostava do meu cheiro. Embora eu seja absolutamente inodora.
22.11.XX. Espelho
Quando acabar a beleza, a forma e as outras coisas que fazem de mim uma mulher, o que eu vou ser?
26.11.XX Uma outra pergunta
Por que me privei por tanto tempo de mim mesma?
Finalmente consigo dizer que eu sou uma mulher. Finalmente sei como eu gostaria de viver. Só não sei por onde começar e como desfazer os nós que eu tenho atado até agora.
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