Portuguese
Lá, no escuro do utero, absorvia a ira, a não aceitação exterior e o choro repleto de dor, inocência e pureza de quem a carregava.
Peso desmedido por toda a vida
Lá, no escuro do utero, tornava-se frágil, sem bem que , de uma fortaleza incálculável
Essa fragilidade acompanhada de fortaleza em igual proporção, fizera-a romper as paredes frágeis e dolorosamente entrou na vida, na luz do dia, no mundo que a esperava e dos que a desejavam e protegiam
Entre a fragilidade e a fortaleza, se encontra a intolerável á pobreza de carácter, a guerreira, a justiceira ...
Helena Fortuna
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Pequenas histórias...histórias pequenas
Naquela aldeia aquele Ser vivia...
Pequena Aldeia de gente idosa , sobretudo idosa. Não ficava longe do mundo mas estava distante dele
Pessoas estranhas, desconfiadas , intrigantes...pequenos seres que por ali deambulavam ao sabor do tudo ao sabor do nada...
Aquele Ser... imenso
Grandioso para alguns, para outros num
Aquele Ser, visualizava, sobrevivia, de nada esperava
Pintava letras como seu refugio e terapia
Havia vivenciado horrores, amores e desamores...temia e não vivia
Pensava, sorria, chorava , receava, acreditava e de novo vivia
Naquela Aldeia aquele Ser morava e esquecia e queria
A sua intensidade não lhe permitia viver com sabor, de bom sabor, em terra de gente pequena...de pequenez
Ousava, atrevia, arrepiava e brilhava... mas temia
Naquela terra aquele Ser vivia...
Sentidos
Um olhar brilhante
Um sorriso contagiante
Um sopro de esperança
Um acreditar na mudança
Que não falte o afago
Que as palavras nos beijem
Que a paz nos invada
Que os verdadeiros sobejem
Helena Fortuna
Mazelas do tempo
O telhado estava prestes a ruir. As mazelas do tempo, das palavras, as interjeições, os desmazelos, a arrogância, a falta de bom senso, os canais auditivos entupidos... o telhado vai ruir... a irresponsabilidade vai faze-lo ruir
O caos devagarinho se instala, o peso é forte, demasiado forte. A estrutura, pesada, cansada, não suporta mais o peso da inconsciência.
Ora vem o doce do vento, ora vem o peso da chuva, da tempestade incontrolável, ruidosa, doentia.
O telhado cede, vai cedendo
O granizo do dia, o granizo da noite, as gotas fortes que caem dos beirados fazem temer a aproximação das aves... das doces aves.
Das aves que falam, das aves que sentem
Helena Fortuna
A verdade da mentira
Existia ali uma cegueira inventada, um surdi-mutismo fingido, uma sensibilidade camuflada, um medo fantasiado, uma verdade fictícia ... certamente uma demência senil !!
Helena Fortuna
Emoções
É bestial acordar e olhar o céu, o sol, as nuvens e sorrir
Sorrir de contentamento porque somos enormes...Seres enormes, bem maiores do que alguns que caminham ao nosso lado, mas, não se vêem
Observamos o céu, o sol, as nuvens
Escutamos o chilrear dos pássaros
Sentimos a brisa do vento
E sorrimos ironicamente e, alegremente, ao perceber como o rodar dos ponteiros nos revela o que já tínhamos percepcionado - os seres minúsculos que nos circulam e os Seres enormes que nos acompanham na caminhada, seja ela de pedra, seja ela de algodão
É bestial ao anoitecer, olhar as estrelas e sorrir ao sentir que do nosso lado, mesmo que em silêncio, mesmo que lá longe, habitam aqueles Seres grandiosos e incondicionais e que, se uma granada vier em nossa direcção, jamais ocultarão a visualização de quem no-la atira.
É bestial acordar e olhar o céu, o sol, as nuvens e, ao anoitecer contemplar as estrelas que para nós brilham e perceber que a nossa riqueza interior é real e é essa que é válida
Helena Fortuna