Livro. Artelogy. 2022.
Prefácio
Um olhar atento aos títulos dos poemas de Vidas em Devir, de Agostinha Monteiro, possibilita ao leitor uma entrada imersiva num universo poético povoado de esperança e de sonho, ainda que desvelando os desencantos que, de tempos a tempos, nos surgem no caminho e nos forçam a refletir sobre a essência do mundo e da própria escrita.
Em “Amar para sempre”, primeiro poema desta obra, somos confrontados com a força maior do universo, o Amor, um amor “incondicional”, que é corpo, que é desejo, que é eternidade. E é esse amor resiliente e cúmplice que em “Bodas de ouro” se revela nos seus alicerces existenciais, “desafiando” a racionalidade e dando voz ao reinado do “coração”. Logo de seguida, em “A essência da vida”, a poeta caminha connosco, na nobreza dos sentimentos mais puros, apontando para um sentido de “missão”, que desenhará, a traço leve, a saída de cada um dos labirintos com que nos confrontamos na rotina de dias sem retorno.
Continuando a deambular pelos poemas, rapidamente apreendemos a ideia de que a poeta oscila entre mágoas que perturbam memórias carregadas de tempo e pontes que se lançam diante dos nossos passos, como se olhássemos para trás com olhos de futuro. Será, assim, no movimento de crença no outro e no mundo que o sujeito se elevará até à plenitude existencial, sentindo em si a força telúrica de uma “natureza” que grita pela liberdade, que ousa a “felicidade”.
A vontade de enveredar por cada atalho que o poema delineia em nós é imensa, pois todos queremos conquistar essa resiliência poética, trazendo-a para as nossas desassossegadas vivências do tempo e dos lugares provisórios que definem o humano. “Escrevo em mim o que sinto”, diz-nos o sujeito que desbrava sonhos e impressões de vida em “Ilusão do sentir”, assumindo a escrita como lugar de “comunhão” universal, como espaço de acolhimento das coisas mais simples da vida.
Podemos agora continuar até uma “Terra de encanto”, em que a poesia das origens da poeta nos leva pela mão até ao “mar” de uma terra sem “mar”, mas em que aos “montes” e às “serras” é dado o papel principal, o de plantar horizontes, o de quebrar a interioridade geográfica, o de arquitetar um lugar sem tempo.
A poesia é, nesta obra de Agostinha Monteiro, um lugar de puras emoções, numa escrita que dignifica a beleza e a simplicidade das coisas vividas e daquelas que ainda estão em “devir”, abrindo-se, assim, à Vida.
Rosa Maria Mesquita
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