se algum dia morrer espero estar vivo
morrer antes da morte é deprimente fado
luto dolente de viver ensombrado
quando partir partirei de mento altivo
Basta de poemas, poesias,
divagações em mote e glosa;
basta de revisões e refinarias,
lamúrias em verso e prosa.
Bastam já as palavras
Na cabeça, tinha um belo poema,
consigo ainda sentir, por entre as sinapses,
retinir a sua beleza.
O poema, porém, não o recordo.
Hoje é dia de “horticure” o aroma da grama
podada enche-me os órgãos sensoriais
de um olor matutino que me desperta um sorriso
Todas as estradas têm algures seu fim
incontornável na barca de Caronte
fervilhando no corpo o fado carmim
desde a génese do nada ao seu remate
hoje passei sob a tua janela
não me viste
lias sentada sobre o parapeito
tudo o que me resta do teu aconchego são os teus chinelos