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A Honda FS 125 era sinônimo de liberdade e ousadia. Eu tive uma. Na época em que comprei a minha primeira moto, poucas mulheres ousaram ter uma. Como era uma moto para fazer trilha, a minha moto chamava muito atenção, por se amarela e pela placa que eu coloquei. As iniciais do meu nome DB 666 foi palco de uma cena muito interessante. Um dia eu estava parada na sinaleira e encostou um carro ao meu lado e um homem me disse: Moça, mude o número da placa da sua moto. Este número atrai coisas ruins. Como sou muito supersticiosa, passei a andar com certo recheio. Uma tarde, depois de me despedir dos amigos que costumam estacionar na avenida no final de tarde, eu decidi ir embora. Naquela época, não era obrigatório o uso de capacetes e eu ainda usava botas de salto alto para pilotar. No momento em que trocava de marcha e acelerava, um carro fechou a frente da moto. Eu ainda tive tempo de raciocinar. Vi que não podia desviar e que ia bater de qualquer jeito. Então torci o guidão e a moto bateu de lado no carro. Estava na direção um senhor que era policial. Meus amigos correram para ver se eu estava bem. Graças à Deus, foram só danos materiais e o policial pagou os consertos da moto. Depois disso, acabei vendendo a moto, não porque tivesse ficado com medo, mas porque me casei e fui morar em outra cidade e precisava de carro para trabalhar. Alguns anos se passaram, eu me divorciei e voltei para a cidade onde morava. Haviam se passado vinte anos e eu nunca mais havia andado de moto. Tinha já dois filhos. Um dia, resolvi que ia comprar outra moto e comprei uma Yamaha XTZ 125,azul. Sai da concessionária com minha filha na garupa. Desta vez, eu havia comprado capacetes. Quando guardei a moto na garagem de casa, percebi que havia no chão uma porção de óleo derramado. Fui no outro dia na concessionária e eles me disseram que toda a moto nova escorre um pouco de óleo. Aproveitei nesse dia para pedir para rebaixar a moto, porque eu mal encostava os pés no chão. Pedi também que colocassem um protetor de pernas e me disseram que para moto cross não existia protetor. Teriam que improvisar um. E assim foi feito. Quando fui buscar a moto, achei que o protetor prendia os pés, porque era dobrado para trás. Num momento de emergência, eu poderia não conseguir manobrar. Fui para casa pensando naquilo. Sonhei com meu pai, que já havia falecido. No sonho, ele me mostrava um caminhão que havia comprado e que possuía outra carreta no reboque, algo como o bitrem de hoje. Ele me mostrou os engates e me disse que era muito perigoso. Perguntou-me se eu sabia o que era carburador. Eu disse que não. Ele me perguntou como eu poderia não saber, se dirigia e pilotava moto há tanto tempo. Esse sonho me deixou curiosa. Não conseguia entender o que ele tinha a ver com a moto. Ao chegar na concessionária e reclamar novamente do óleo derramado, eles insistiram que não era nada. Fui andando em direção `a moto e foi então que vi uma enorme quantidade de óleo espalhada pelo chão. Chamei o mecânico para ver e ele me disse: É o carburador. Quando ele falou em carburador, eu fiquei toda arrepiada. Lembrei do sonho que havia tido com meu pai e entendi o que ele havia falado sobre os engates. Resolvi na mesma hora tirar o protetor de pernas que havia colocado na moto. Agradeci ao meu pai, porque sabia que naquele momento e em vários outros, ele cuidava de mim, como sempre fez.
Débora Benvenuti
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