E quanto tapavas a vergonha do rosto com uma almofada quando eu te dizia que eras linda, lembras-te? Eu lembro! Ficavas uma ternura quando coravas: uma delícia de carinho embrulhado em lençóis com suaves tons de rosa. Voltava a elogiar-te enumeras vezes só para te ver abraçar a almofada ainda com mais força. Às vezes, porém, era um peluche qualquer, o que estivesse mais à mão; lembro-me de uma vaquinha simpática que tinhas perdida pela cabeceira da cama. De vez em quando, lá vinha o bovino de tecido fazer tempo de antena diante da câmara do computador. Sempre adorei esse teu lado infantil. Ficavas constrangida e sem jeito. Eras magnífica sem jeito algum. Foi por essa simplicidade inicial que me apaixonei quem nem um parvo entusiasmado. É essa tua candura que ainda guardo numa caixinha de recordação quente. Não está escondida, nem sequer a uma chave trancada. Tem somente à volta um cordão de saudade e sem nó complicado, não vá o seu conteúdo perder-se por infortuna razão como o de Pandora. É apenas o que é: uma ponte para um passado feliz que não me arrependo de ter partilhado contigo; não tenho vergonha, não preciso de almofada para me esconder sempre que a ele regresso.
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Comments
Lindo!
Gostei muito. Muito bonito e envolvente.
Parabéns
Obrigado
Muito Obrigad @Palavras Ñ Têm sono! Fico contente que tenha gostado!!
Almofada
Hoje dediquei-me a deambular pelo site, na vertente que mais aprecio - a prosa - e gostei de alguns autores. E é assim que aqui me encontro. Existe um bem estar natural no que é-nos devolvido por quem nos lê e, por isso, entendi deixar alguns comentários meritórios. Dos textos escritos, gostei especialmente deste. É ingenuo e humilde, ao mesmo tempo. É um dom quando conseguimos nos transpôr, não é?
Quanto ao novo acordo ortográfico, devo dizer que basicamente retira-me o ímpeto da escrita. Persona non grata, portanto :)
Cara Susana
é com muita alegria que leio o seu comentário. Alegra-me o facto de saber que este meu texto se encontra no meio dos seus favoritos.
Claramente, sentiu muito bem um dos tipos de energia que quis transmitir quando o escrevi: a ingenuidade e a simplicidade. Para além do texto representar uma situação próxima da realidade, há cercas coisas só se sentem quando as sentimos simplesmente. Nenhum sentimento é complicado. A razão é que complica; O coração, no fundo no fundo, sabe sempre o que quer.
Quando ao acordo, nem vê-lo. Qual acordo? ;)
Muito obrigado uma vez mais.