joao amilcar torres correia

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Porque fazes o que fazes?

Vou tentar fazer uma declaração acerca da visão que tenho da minha própria obra, Tenho que falar então, de mim e do meu trabalho. Da minha personalidade artística, da minha obra, do meu processo, da minha filosofia, da minha visão e da minha paixão. Já percebi que não trata da minha biografia nem o meu CV, mas sim de uma arma de promoção. Tudo bem, mas sem presunção e sem fatalismo de não pertencer a um certo "métier", apenas vou tentar descrever o meu trabalho em palavras. Logo eu, que nem gosto delas. Nem de números. Apenas de riscos!

Começo por dizer que sou agrónomo...e tenho uma luta diária entre o rigor da engenharia e a leviandade da arte. E o meu processo, seja ele pretérito ou atual, tem sempre uma costela agrária, não sei se por defeito profissional, se pela mesma sensibilidade que se tem, quando se vê crescer uma erva, cuidar de um animal ou construir um políptico. Eu faço o que faço...porque assim me sinto vivo. Assumo a prática artística. Ela sempre esteve comigo e comigo definhará! Já frequentei escola de artes, já fiz criações artísticas através de exposições individuais e coletivas, já promovi encontros de artistas, já pintei, já fiz fotografia, já esculpi, já fui ceramista e desenho todos os dias. Já fui premiado e vou, muitas vezes, ao salão dos rejeitados levantar as minhas obras.

Talvez porque acredito na honestidade, vou continuar a explorar o absurdo de algumas ações quotidianas para revelar o sentimento de vazio que implica a ausência de sentido das coisas. Gosto de pensar que o poder ou a força do vazio existem e que podem ser representados. E gosto da ideia de passar por cá e deixar um risco...que seja num chão rural ou urbano, mas um risco...e sempre senti a pressa de criar, de dar a conhecer, de libertar a energia armazenada, talvez pela noção do tempo que passa e a possibilidade que temos de desaparecer

Como é que chegaste a fazer o que fazes atualmente?

A minha mais recente criação artística explora as preocupações ambientais, a agroecologia e a sustentabilidade de hoje, e o prazer das coisas simples: os agricultores como os jardineiros da paisagem, o Património da Unesco e do Douro Vinhateiro e a curta vida que descartamos. A produção de arte e a sua relação com o consumismo.

Como estratégia concetual, procuro reanimar o inanimado através de tinta de pigmentos naturais. E produzir papel artesanal, tão arcaico, mas pleno de urbanidade. Exploro o carácter mutável e impermanente da "coisa" da vinha, como cultura agrícola, desconstruindo e anulando nas ocasiões, a ideia de estabilidade. Os materiais de resíduos agrícolas que resultam de algumas intervenções ou ações no espaço, fazem parte da informação que quero transmitir.

 Interessou-me a criação de imagens e objetos visualmente poéticos que permitam uma homenagem aos agricultores, uma homenagem à paisagem que eles cuidam e preservam como um bem público ambiental e que nós todos gostamos, quando a visitamos de carro, com a família de amigos e dissemos " olha tão lindo!"

 

Por fim, mas não em último, a minha ideia de arte não se baseia numa técnica específica, mas sim numa função das propriedades simbólicas que ela possa transmitir a um público de artes visuais e dizê-lo para toda a gente: é um trabalho meu e espero que gostem deste pensamento que se une à própria vida, onde a memória está encarregue de comunicar um tempo irrepetível. 

Se aquilo que fazes não é selecionável, porque o fazes?

Ao longo da minha vida, busquei sempre uma aproximação maior com a arte. Tento enxergá-la e conhecê-la melhor em toda a sua plenitude e extensão. Existe um mundo enorme cheio de pessoas que me fazem acreditar que não faltam artistas. Não faltam mãos que escrevam ou que pintem, línguas que cantem ou corpos que toquem. Faltam, na verdade olhos que leiam, ouvidos que ouçam e corpos que sintam. Este prémio tem por objetivo promover a criação artística e distinguir os valores emergentes da arte contemporânea portuguesa. Tenho consciência que o meu trabalho vai ser considerado primário e vão dizer que não sou "profissional". Tudo isso é certo, mas tenho uma nanopalavra a dizer, um pequeno gesto e traço minúsculo que pode ser um contributo na difusão das artes visuais. Constantemente e como agrónomo-artista, quero fortalecer a memória cultural deste povo, contemplar temas relevantes desta gente, introduzir novas linguagens para esta terra, além de permitir a acessibilidade aos bens culturais e ao compromisso com a formação de público.

 

João Amílcar

maio 2015

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