Se soubesses quantas vezes sonhei contigo! Quanto desejei que estivesses aqui para me atender. E então, finalmente, vieste.
Na minha mente formulei mil desejos para te pedir. Que o mundo tivesse paz. Que a chuva regasse os campos ressequidos. Que as doenças más fossem extirpadas. Que as drogas fossem pulverizadas e se perdesse por completo a sua memória. Que as religiões fossem antónimo de fanatismo. Que eu encontrasse o amor perfeito. Que a crise fosse apenas um substantivo comum. Que os meus pais fossem eternamente saudáveis e autónomos. Que a minha dívida ao banco fosse paga por um passe de magia. Que o fosso entre os ricos e os pobres fosse drasticamente diminuído. Que a poluição do planeta fosse uma matéria para os alunos estudarem na disciplina de História Antiga…
Mas o sonho dos sonhos, génio, era que viesses. Que eu pudesse ver-te, cheirar-te, sentir-te. Passei horas sem fim a desenhar os teus traços na minha cabeça de criança, na minha mente de adulto. E nunca fui capaz de contar a ninguém que sonhava contigo. Eras a única coisa só minha. Intocável. Intangível. Impartilhável.
Quase tenho medo de acreditar que estejas aqui. Mas estás. Consigo pensar-te. Por isso sei que é verdade estares comigo. A perguntar-me, por fim: qual é o primeiro desejo que gostarias de ver realizado?
E a voz, que não me sai. Paralisei. O som está preso na minha garganta e não consegue sair.
O meu primeiro desejo? Mas eu tenho uma lista de mil…
Sabes génio, sempre defendi que se a realidade fosse feita de sonhos, tudo seria mais simples. Mais bonito. Mais coerente. Mas saudável. Mais eficaz.
Poderias ficar comigo, génio, nesta dimensão? Ou, então, levar-me contigo para a tua?
Como é o mundo na tua vida? Como é a vida no teu mundo?
Eu gostava de ver o céu sempre azul, daquele azul celeste impossível de copiar. Tu consegues reproduzir o azul do céu, génio? E consegues reproduzir uma brisa? Sim? Sim?
Esta angústia de ter de escolher o que considero mais importante dói. Que farias tu se invertêssemos os papéis? Que me pedirias se eu pudesse conceder-te três desejos? Deixa-me tentar adivinhar: que te libertasse da lâmpada? Que te retirasse esse eterno fardo dos ombros? Que pudesses viver em liberdade?
Ah, meu amigo, terás de alterar os chips da humanidade.
O meu primeiro desejo, génio, é que me concedas todos os meus desejos.
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