Cidade, sonha!

 

Cidade, sonha!

Português

Uma, duas, três da manhã…

Já longe vão os meus tempos de infância

(que não tão longe assim vão, mas aparentam).

Deito-me, adormeço, sonho.

A noite calma da cidade, de que me lembro,

também já longe vai, na memória,

e vive neste mundo novo, que apenas

quando fecho os olhos, se abre…

 

A dicotomia noite-dia

de metamorfose súbita e imparável

de adormecimento total de um espaço,

em que a cidade, sem sol, se tornava campo,

agora apenas neste mundo existe.

Apenas a encontro sonhando…

 

Cidade, dormindo, era o campo.

Tinha as luzes das estrelas presas em postes,

tinha os ramos das árvores nas antenas dos prédios,

tinha os animais nos motores silenciosos dos carros.

Era o campo, em betão e metal, mas dormindo…

 

Hoje, dormem as pessoas, mas a cidade nunca dorme.

Passam noites, passam dias,

mas apenas um tempo importa

e a esse se chama infinito…

 

No descampado infinito do tempo

em que a cidade, moribunda, se arrasta

de olhos vermelhos e lacrimejantes, que não fecham mais,

acordam as pessoas, nasce o sol.

Não acorda a cidade.

Quem não dorme, não pode acordar, nem sonhar…

 

Sonhar.

Algo que a cidade já não faz,

pois há muito não descansa a visão

e deixa a calma a invadir,

enquanto entra neste mundo sem luz

em que a mente, livre,

para sempre divaga…

 

Dorme cidade!

Sonha!

Sonha que és campo

E que tens animais e árvores e estrelas…

 

Torna o meu sonho no teu!

 

Descansa, descansa cidade,

que a realidade é dura nos olhos

E apenas o sonho a pode atenuar…

 

Dorme cidade!

Sonha!

 

Pareces cansada…

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