O vento forte fustiga as árvores ao fundo da rua e empurra a chuva intensa contra as vidraças das janelas, fazendo-a parecer cortinas de cristal. Gosto de tardes de chuva! Nestes momentos volto a ser a mocinha triste e fechada que vivia ansiosa por crescer…e voar!
Ansiava descobrir o que estava para lá daqueles montes… Olhava em volta e a circunferência que via era pequena demais para abarcar os meus sonhos! Como seria viver para lá da linha do horizonte fechado naquela circunferência?
Os anos passaram…Saí daquele ninho que me sufocava de tão vazio de conteúdos. A cidade era enorme e um pouco assustadora, mas era por ali que precisava encontrar-me. Trabalhei em prol dos meus projetos e realizei-me enquanto profissional. Cresci como pessoa, como mulher e mãe.
Entretanto, algures nesse percurso algo se perdeu: a capacidade de sonhar! Essa ficou naquela circunferência verde onde tudo era esperança e busca pelo amanhã. E o amanhã já era hoje e, afinal, não era mágico, era apenas normal!
Então chegou a procura, a procura do “eu” que se buscou no futuro…Mas nestas voltas e procuras perdi-me de mim, e senti que deixara para trás parte do meu ser, do meu sentir. Revivi então o passado, o presente, equacionei o futuro…
…e na busca incessante de mim, encontrei-me. A maturidade adquirida no quotidiano deu-me a resposta: seja eu quem for, esteja onde estiver, a minha essência estará lá, porque é de essência que sou!
Autora: Lúcia Lourenço Gonçalves
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