Acordo. Na manha do tudo ou nada. Não quero amores a meia haste. Não quero amores contentados, paixoes acomodadas e corpos amenos, despojados de nós. Nunca quis, e sempre o soube, mas amordacei os meus labios, esmaguei os meus receios, atei o meu coração e deixei-me morrer por debaixo da pele. Agora, olho para ti e tento imaginar o que iras sentir quando te disser que me vou. Se te conheço irás estranhar porque, na verdade, nunca quiseste adivinhar-me. E estás longe. Longe de saber e longe de mim. É triste, não é? Apeteciam-me os beijos quentes, a embriaguez dos sentidos, o roçar da pele, o entusiasmo das maos, a súplica dos lábios. Apetecia-me a imprudencia, o balançar da alma no banco de detrás do carro, os murmurios partilhados, os cheiros entrelaçados, as carícias esbanjadas. Olho para ti. Aposto que tu não precisas de nada disso. Ou talvez precises, mas não comigo. Nunca comigo. Faltou-te a honestidade. Precisavas de alguém para recuperares do irrecuperável. Não mo disseste, mas eu sabia-o. Quis acreditar que o tempo trataria das coisas, que se não havia uma confissão, eu estava a salvo. E embarquei. E agora tenho o amor que me podes dar, a meia haste de afectos contidos, um amor de substituição que so a ti te serve e que, a mim, me reduz a quase nada e me deixa naufraga e só. Olho para ti e tento adivinhar de quem tenho mais pena. Se de ti, se de mim. Porque tenho receio que seja de ti, deixo aqui este pedaço de mim, para me leres. Provavelmente estranharás (quase que adivinho que nem sabes que adoro margaridas e que choro quando oiço tocar piano), mas quando não chegar logo, perceberás..
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