Gosto de ti. Antes e primeiro do que tudo. E depois amo-te.
E agora que o disse, sinto-me protegida do que possas vir a pensar de mim mais logo, quando leres esta carta e te deres conta de que, para revelar-te o que há dentro de mim, só a promessa irracional de não apagar uma unica palavra poderia resultar. Perguntaste-me o que queria receber hoje. Pois quero tudo. Quero o vestido de seda italiana verde escuro, para combinar com os meus olhos e umas sandalias pretas de atilhos altos. Quero um lugar num bar, daqueles das ruas escuras, vibrantes de gente à procura da felicidade fugaz, e um copo gelado de vinho frizzante, a escorregar-me dos dedos. Quero uma banda, um saxofone e um piano. Quero o sorriso de quem me olha como se não houvesse mais ninguem na sala. Quero a dança apaixonada de suor, a pele arrepiada de desejo, as coxas vibrantes e os membros entorpecidos. Quero ouvir-te murmurar mil vezes “-Anda” e eu a fazer-me difícil. Quero deslizar a minha mao por ti e senti-lo pulsante, impaciente por me ter. Quero o engano da saia levantada devagar e a força de me fazeres tua sem pedires, esmagada contra o corrimao das traseiras. No bar das ruas escuras. Quero a impaciencia das maos, o vaivem do corpo, o agarrar das ancas, as palavras ousadas, arrancadas a custo. Quero os teus olhos nos meus, os teus labios abertos e os meus suplicantes, o peso de ti sobre mim. Quero que me sorrias. E que me prometas mais 20 anos.
Gosto de ti. Antes e primeiro do que tudo. E depois amo-te. E depois desejo-te. Não necessariamente nesta ordem.
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