Imóvel. Leonor está tão quieta que tudo à volta parece mover-se, timidamente, porque se sabe que os objectos não andam, isso seria de estranhar.
Uma sala circular que em vez de amplas janelas em redor possui espelhos. Altos, escuros, velhos.
Reflexos de reflexos, mostram a Leonor, ou uma Leonor. Uma Leonor que é a Leonor, mas que não conhece a Leonor. Pelo menos não a Leonor que observa, pelos espelhos. Nos reflexos dos reflexos.
Uma lágrima cai, ansiosa, pelo rosto da Leonor (a do espelho?), cai, correndo num grito vitorioso e libertador. Os olhos, portas abertas e escancaradas, revelam um interior vazio. Todo o brilho que ali havia foi roubado. Todo o mistério perdido. Toda a sabedoria fugida.
Um vazio ecoando o grito da lágrima, que levava com ela a essência da alma.
Outrora castanhos até a cor já era inexistente, substituída pelo cinzento do interior vão.
Era por esses mesmos olhos que Leonor observava, ausente, o reflexo dos seus olhos. Ou dos olhos da Leonor que ali estava, reflectida. Que não era ela, que não podia ser ela, assim ali, imóvel, petrificada.
Ouve-se o ranger dos objectos que se movem não se movendo, numa sinfonia intangível que apetece perseguir, deixando o corpo para trás. Como aquele que ali se mantinha no meio da sala circular, estático e oco, assim abandonado pelo imponente roubo da alma da Leonor. Ou de uma qualquer Leonor.
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