Os dípticos registram o resgate de declarações de amor e demonstrações de carinho escritas em livros ou capas de discos garimpados em lojas de livros usados.
As dedicatórias que testemunharam um sentimento pretensamente inabalável, hoje atestam o fim dos relacionamentos.
O segundo instante, complemento do díptico, é reflexo de uma leitura pessoal, um exercício de imaginação e remete aos personagens mencionados nos escritos, concluindo ou complementando a saga dos relacionamentos a partir de um momento qualquer em um tempo indefinido da relação.
Os dípticos assumem o papel de recitante e contam a história a partir de seu fim, em substituição ao sujeito enamorado.
Este fenômeno resulta de um imperativo do discurso amoroso: não posso eu mesmo (sujeito enamorado) construir até o fim minha história de amor: sou seu poeta (recitante) apenas quanto ao começo; o fim desta história, assim como minha própria morte, pertence aos outros; a eles cabe escrever esse romance, narrativa exterior, mítica” (Barthes – Fragmentos de um discurso amoroso).
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