Sentiu-se a acordar. Não sabia se queria, ia com certeza ser doloroso!
Abriu primeiramente um olho, e lentamente foi abrindo o outro. Era realmente ainda pior do que pensara. Tentou levantar a cabeça da almofada, voltou a baixar. Sentia-se impotente, braços e pertas abertos, fitando o teto. Nem se lembrava a que horas o cliente tinha saído, mas já devia ter sido muito tarde. Cliente novo, tudo novidade, tinham bebido muito, mesmo muito!
Era comum acontecer. Muitos de seus clientes eram homens que pretendiam afundar as mágoas, não só no seu corpo, mas também no álcool. Não se importava. Não o fazia por nenhuma história de vida triste. Fazia-o porque gostava. Gostava muito de dinheiro, e gostava quase na mesma medida, de sexo. Vivia muito bem com isso. Não tinha mais o sonho do amor eterno, o romantismo dos apaixonados, a inocência daqueles que se entregam. Tinha amado uma vez só. Uma única vez. Desde os seis anos aos dezoito. Um único homem. Costumavam brincar à beira do rio, Pedro dizia-lhe que um dia iria encontrar uma pedra em forma de coração, e que lha iria oferecer. Qual era a sua cor preferida, ele tinha-lhe perguntado, respondera “ lilás”. “Então depois pinto-a de lilás!” Soou a promessa. Ela ajudava-o a procurar, e ficavam horas a rir e pegar e largar em pedrinhas do rio. Ele dizia que nunca ia desistir. Mas desistiu, das pedrinhas, dela…Já não importava.
Mexeu as pernas longas e finas de forma suave, por debaixo do fino lençol que a cobria. Levou uma mão á sua anca, estava nua, nua e cansada. Tinha sido uma longa noite, tinha sido até bem diferente de todas as que tinha vivido nos últimos três anos. Este tinha sido diferente, muito diferente… carinhoso, podia ser carinho o que havia sentido? Era tudo um pouco estranho… E o corpo? Que corpo!
Tinha levado o seu contato. Este ela queria que voltasse. Queria saber ao certo porque se sentira diferente.
Sentiu algo em sua mão aberta, procurou identificar com os dedos, rodou muito lentamente a cabeça…Uma pedra…Uma pedra lilás em forma de coração!
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