De tudo o que vivi, no somatório dos dias
E em tudo o que toquei ou ao vento soprei sem perdão.
Elevei-me no barco do futuro
esperando que as velas soprassem livremente.
Mas, no total, afinal, foi no meu corpo
na minha mestre mente que os dias entraram donos da minha existência, permitida.
Tudo deixado ao tempo sem perdão de recuar.
Vejo o passado e vejo-o no desejo de a ele regressar
no desejo de o revolver à presente vida,
reviver os dias, da mesma forma sonhada
encaixotada nas linhas que no total não vi aparecer-me à vista.
Afinal, fui eu?
E de tudo o que pisei, caminhando nos destroços dos minutos
o trilho era tão meu como de quem mo deu,
uns de bandeja; outros, na sombra do sangue dos pobres pescadores em parcas embarcações de sonhos conquistados,
agora perdidos.
A minha voz acalma-se nos temperos dos sonhos deitados
revoltando-se contra o corpo dormente, que segue as pisadas dos outros. No limiar dos dias, sei que também eu sou
capataz do meu tempo, carrasco da minha história.
Sei, na sabedoria da pessoa que pensa e que sente
o que pensar e o sentir levantam nos voos de esperança
e o que o sentir e o pensar agarram à terra mãe, o medo da fuga
a certeza de merecer mais, no destemido coração das gentes
no envergonhado ministro da minha vida, segura à vozes dissidentes.
Afinal, não sou eu. Nem fui eu.
É um erro de mim para mim,
daqueles que nem soube existir
dos que aos outros deixo empacotar na vida minha.
Afinal, não é sou o eu que perde-se nas linhas do sonho nem tão pouco é meu o erro de navegar à deriva.
Terá de ser minha a navegação sabida nos meandros do coração às escuras.
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