Perdemos o rumo
Quando trocamos as direcções
E ficamos,
Cada um do seu lado da linha,
À espera do que nunca veio
Tínhamos as horas erradas
(ou tínhamos apenas tempo)
E não sabíamos para onde íamos
Hoje sei que nunca te tive
E apenas fiquei presa num vagão que partiu
Vendo-te parado
Preso nas bagagens tão pesadas
Que trazias de outras vidas
Tantas as horas foram
Em que fiquei à espera que mudasses o rumo
Cruzasses a linha e viesses
Mas todos os dias tive de te ver ficar
Não, não vieste
E eu nada tinha que não fossem fumos
Ou o barulho de locomotivas na minha cabeça
E ia para casa
Para o mais seguro dos lugares
Tremendo na minha própria pele
Com medo, ou com fé, que te movesses
E, meu bem, tantas outras viram-te partir
Sem que a sua ausência fosse mais que apenas isso
O travo amargo de um cigarro ressequido
Que ficou muito depois do seu fim
E fechei os olhos para não te ver
Tendo que recordar a tua não partida
Por tanto tempo
Sempre tive a fragilidade de um grito
E a certeza de não ser mais que uma
Entre a multidão que te espera
De braços abertos
Davas-me apenas meios versos
Escrito de meias palavras
Na pressa de quem escreve
Em cima do joelho
Precisei tanto que viesses
Mas nunca tomaste um rumo
E ficaste vagueando
Sem ele
Tomando o sabor de tudo
Vi-te olhar para outras
que me antecederam e me sucederam
e fui apenas mais um verso
numa meia verdade
Larguei então o peso das malas
Na estação do costume
E senti-me segura pela primeira vez
Como tu nunca farias
Por não saberes que me dar
E há muito sabia que tinhas ido
Sem regresso
Mesmo antes de me encontrar
E talvez eu fosse mais um escape
Uma lembrança reencarnada
Da luz que te aquecia
E, talvez,
(meu bem, entre nós são tantos)
Fossemos o certo um do outro
Ou apenas mais um sonho errado
Ninguém teve culpa
Fomos apenas a mais bela coisa
Que nunca aconteceu
Ficamos com meios amores
Como havíamos conhecido antes
Apenas dói mais um pouco desta vez
Vai
Que não tenho nada que te prenda
Nem direito a pedir nada
Vai
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