A Terra em dúvida
Nada na Terra está errado, o lado
De cima nunca pode estar pra baixo,
Nem o subir da maré é pro lado diverso,
Que se movimenta o planeta todo,
(Duvidamos provavelmente que assim seja)
Nem há lei dos Homens que obrigue,
Porém há uma questão que se põe, urgente,
Alguém me disse certa vez que sentiu a terra
A falar e quis sentir ser o âmago desta,
Com o ouvido interior no bosque de carvalho,
E o solo por arar, atento ao falar do vento
Certo ou a um canto de sereia, uma prece
D’alguma flor murcha da terra e órfã da sorte,
Ou a brusca voz da serra gelada ou da geada,
Mas nesta terra natal, nada estava mal ou errado ,
Apenas o meu ouvido imperfeito impotente, doente
Deixou faz tempo, de ouvir do mundo a dizer,
Pra me ouvir a pronúncia ou a ti próprio…
Dos sonhos que imaginamos nós, Ela-Terra ter,
Pra lhos usurpar entretanto, enquanto rola, roda
Nas marés do mar de que vai cheia, partilhando
(Talvez o amor por nós, sem que em dívida o peça)
De cima a baixo, de baixo a cima e p’lo contrário,
Nada na Terra está mal, errado ou doente,
Por enquanto, o erro é da minha parte e de todos,
Ou do íntimo ouvido nosso, ser como eu, fraco,
Não prezamos o lar incomum que partilhamos,
E onde vivemos sem amarmos os outros comuns
A nós próprios, somos ruins caseiros, maus vizinhos,
Rivais, fazemos tábuas rasas desta Terra em dúvida,
Todavia ainda duvidamos que ela, por mais que berre,
Por mais que diga -em causa estou- e seja autêntica,
Alinhavamos solidão e leviandade de bestas,
Com os eloquentes espíritos da natureza idêntica …
Joel Matos (01/2015)
http://joel-matos.blogspot.com
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