O Homem que era Honesto

 

O Homem que era Honesto

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Esse homem existiu. E se chamava Nayr. À princípio seu nome criava muitas controvérsias e situações embaraçosas, não para ele, mas para as pessoas com quem ele conversava. Ficava rindo baixinho quando alguém tentava chamá-lo pelo nome e mais tarde, depois de casado com uma mulher que se chamava Camila, as pessoas se sentiram mais confortáveis: passaram a chamá-lo de Sr Camilo e de Dona Nayr. Ele nem ligava. Era um homem extremamente honesto e assim foi por toda a sua vida. Honesto e calado. Quando conheceu minha mãe, apaixonou-se à primeira vista. Isto aconteceu logo depois da segunda guerra mundial. Nessa época,minha mãe era enfermeira e ajudava os feridos que voltavam da guerra. Mas não foi neste ambiente que ela conheceu o meu pai. Minha mãe era uma mulher muito bonita e muito independente para sua época. Depois de enfermeira, seu tio Américo, que foi quem a criou, conseguiu um emprego para ela no Banco do Brasil. Como ela sabia datilografia, o emprego lhe serviu como uma luva. Todo dia quando saía do emprego,era seguida por um homem esguio, muito bonito, descendente de italianos, olhos verdes e muito charmoso. Mas este homem somente a seguia. Ficava esperando ela sair do banco, após o expediente e pacientemente a seguia. Todos os dias eram assim. Até que um dia minha mãe resolveu esperar ele se aproximar e perguntou a ele por que motivo a seguia. Não sei exatamente o que foi que ele disse, mas a partir desse dia, começaram a namorar. E um dia se casaram.Este homem foi o homem mais honesto que eu já conheci. Ajudava a todos que dele precisavam, sem jamais se incomodar de esvaziar a carteira para ajudar um necessitado. Se precisasse tirar a roupa do corpo, ele a tirava. E as pessoas começaram a tomar conhecimento desse fato. Então a bondade dele e a honestidade passaram a ser exploradas por pessoas inescrupulosas. Nunca perguntou a ninguém se poderia devolver o dinheiro. Devolvia se quisesse. Ele jamais cobrava. Até que um dia apareceu lá em casa uma moça pedindo dinheiro. Meu pai abriu a porta e minha mãe foi atrás,, para ver do que se tratava. Como sempre, a moça disse que precisava de dinheiro e no momento em que meu pai estava abrindo a carteira, minha mãe, já cansada daquela situação e da exploração de que ele vinha sendo vítima, fez ele guardar o dinheiro e disse à moça que lá não era banco. A moça foi embora. Soubemos mais tarde que ela havia se matado. Meu pai ficou muito pesaroso e triste com a situação e foi depois disso que ele jamais deixou de ajudar quem quer que fosse, quisesse a minha mãe ou não.

A palavra dele valia ouro. O que ele dissesse ou prometesse para alguém, ele cumpria. Esse foi meu pai: O homem mais honesto que já conheci.

 

Débora Benvenuti

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