As Chaves do Paraíso

 

As Chaves do Paraíso

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Há duas espécies de homens: O Corrupto e o Incorruptível. O Corrupto passa a vida inteira tentando tirar vantagem de tudo. Não importa quais meios ele use, o importante é adquirir mais e mais uma montanha de dinheiro. Já o Incorruptível, é aquele homem honestíssimo, pai de família, que passa a vida inteira ralando para conseguir alguma coisa e quando consegue, tudo é revertido para a família. Ele precisa dar o exemplo a seus filhos e à geração seguinte. Quer que o seu nome se perpetue além da eternidade e fica profundamente deprimido quando não consegue alcançar seus objetivos. Para ele, o exemplo é a melhor virtude que o ser humano pode ter. Por isso, está sempre preocupado em ser uma figura exemplar. E foi nestas circunstancias que estes dois seres um dia se encontraram  junto ao Criador. Mas eles não estavam sozinhos. Havia uma multidão aguardando na porta do Céu, porque São Pedro estava distribuindo as chaves para a Nova Morada Celestial. Havia dois tipos de chaves: uma era dourada, cravejada de diamantes e a outra, era uma chave velha e enferrujada. Ao ver as chaves, todos os corruptos ficaram imaginando de que forma iriam corromper São Pedro, para que recebessem uma daquelas chaves, nas quais os diamantes cintilavam. O primeiro a ser chamado, foi um senhor muito idoso, com as vestes rasgadas e sem sapatos. A ele São Pedro deu uma daquelas chaves cravejadas de diamantes e lhe disse que a sua morada era no Jardim Eterno, uma mansão preparada especialmente para ele, onde tudo o que ele podia desejar, se concretizaria. Bastava apenas ele desejar. No mesmo instante surgiu aos olhos admirados daquele pobre homem, uma carruagem puxada por belos corcéis brancos. Ele embarcou na carruagem e desapareceu aos olhos atônitos dos outros homens. O próximo a ser chamado, foi um homem chamado Dedo Mínimo. Ao ver toda aquela riqueza distribuída a uma pessoa tão humilde, Dedo Mínimo achou que ele, tendo sido um homem que sempre dizia que não sabia de nada, com certeza poderia dizer a mesma coisa a São Pedro. Com certeza, Ele acreditaria, pois do lugar de onde viera, conseguira enganar a todos. Imagine só, se não conseguiria enganar a uma só pessoa, ainda mais aquele senhor idoso, de barba branca, que se dizia ser o porteiro do Céu. O Dedo Mínimo se aproximou e São Pedro lhe estendeu uma chave velha e enferrujada. Ao ver aquela chave, o Dedo Mínimo estranhou e disse: O Senhor deve estar brincando comigo! Ao que São Pedro respondeu: Não estou não. Esta é a chave da sua residência. O Dedo Mínimo, já meio desconfiado, perguntou:
- Por que aquele senhor maltrapilho e de pés descalços recebeu uma chave cravejada de diamantes e eu, um homem que dei moradia a tanta gente lá na terra, recebo uma chave enferrujada?
São Pedro mais do que depressa respondeu:
- Esta é uma chave igualzinha aquela que o senhor diz que distribuiu lá na terra. O seu condomínio fica logo ali atrás daquelas moitas. Tem dois dormitórios (caso o senhor receba muitas visitas) e o banheiro é bem pequeninho. Mas acredito que o senhor não vai ter motivos para dizer que não sabia de nada...
 
 

 

Débora Benvenuti
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